domingo, 25 de maio de 2008

Os nossos tempos


Dói a dor dos estranhos já passados.
Chegando aqui, nesse espaço completo por um cinza proveniente da memória que traz os tristes olhares de um povo suprimido pelos tempos não mais normais.
Chegam João, Francisco, Armando e Amadeo. Homens que deixam por onde passam a pesada lembrança sofrida da pobreza miserável que vem desde os seus ancestrais.
Eles não choram, não riem satisfatoriamente, eles parecem simplesmente, viver e, viver, para eles, é sobreviver, vencendo os empecilhos e a crueldade que invadem os seus caminhos.
Vivem dos seus trabalhos, servem a todos como se fossem parte de suas famílias - não fazem distinção de pessoas, pois aprenderam, de uma forma honesta e digna, o significado do termo, pessoas de bom coração.
Quatro figuras retiradas de um lugar puro, sem maldade e sem olhares perdidos nos atalhos da mediocridade.
São sábios nos seus espaços, tudo o que fazem, fazem com entrega e quanto mais fazem mais é visível o prazer que transborda em suas faces - Homens simples, humildes e de uma riqueza invejável: A sabedoria como lidam com a vida supera todas as expectativas; Eles encaram os acontecimentos como consequências, não desprezam a alegria nem a dor, sentem tudo na sua mais total essência, são humanos e só por isso, resistem, insistem e não desistem.
Para quê desistir?
Eles respondem com o sorriso nos lábios:
- Só desiste aquele que perdeu o sentido da vida, deixando, por isso, de senti-la como abertura para infinitas possibilidades, e este não deixa de ser, para nós, covardes!
Apesar da humildade que os assombra e os guarda, eles jamais deixaram de oferecer aos que deles se aproximaram, uma mão e, foi neste doar de mãos e coração que eles me deixaram invadir e conhecer aquele modo de vida tão singular e longiquo.
Como foi enriquecedor o tempo que ali vivi! Foi gratificante poder dividir com eles experiências tão distantes.
Ouvindo-os pude constatar que uma grande parte dos valores assimilados por nós perdem, justamente, o sentido de valor, quando confrantados com a sabedoria daqueles senhores que ambicionam a cura da maldade humana.
A conquista dá-se quando nós permitimos e nos permitem a entrega; Quando nos dispomos a assimilar as diferenças dos outros com o único objetivo de acrescentar algo de positivo em nós - Não adianta ditar os valores, as crenças, as regras, as falhas, as vitórias, as guerras, os dissabores, as glórias se não há de nossa parte o espírito da abertura e da entrega. De que adiantam as palavras se não houver os que que se permitem à leitura?
Foi mais ou menos isso que pude absorver daquela estada ao lado de João, Francisco, Armando e Amadeo - Espíritos sábios e solitários que nunca, talvez, terão a possibilidade de fazer de suas histórias um livro aberto para os que acreditam na leveza de um espírito saudável.
Humildade
Coragem
Confiança
Lealdade
Esperança
Honestidade
Amizade
Palavras, serão simples palavras?
Para eles não são simples palavras, mas, de uma forma extraordinária fazem com que a prática delas os tornem humanos imortais, pelo menos, para aqueles que acreditam na cura da nossa sociedade doente de valores e submersa entre a verdade infundada e a crença subjetiva de pessoas da paz. É extremamente difícil incutir o bem, mas é, indiscutivelmente fácil implementar uma tendência corporal, física, estética. Pensando bem, é muito fácil ditar uma moda ou um comportamento em pessoas que não se permitem ao próprio conhecimento ou que, simplesmente, jamais se deixarão levar por não ícones. A verdade é que dificilmente, os humildes chamam a atenção da nossa sociedade doente e fraca de paradigmas dignos de exaltação.
Zeca Baleiro soube expressar bem os passos dos tempos que vivemos:


Você só pensa em grana

Você só pensa em grana
Meu amor!
Você só quer saber
Quanto custou a minha roupa
Custou a minha roupa...

Você só quer saber
Quando que eu vou
Trocar meu carro novo
Por um novo carro novo
Um novo carro novoMeu amor!...

Você rasga os poemas
Que eu te dou
Mas nunca vi você
Rasgar dinheiro
Você vai me jurar
Eterno amor
Se eu comprar um dia
O mundo inteiro...

Quando eu nasci
Um anjo só baixou
Falou que eu seria
Um executivo
E desde então eu vivo
Com meu banjo
Executando os rocks
Do meu livro
Pisando em falso
Com meus panos quentes
Enquanto você rir
No seu conforto
Enquanto você
Me fala entre dentes
Poeta bom, meu bem!
Poeta morto!...


Esta canção está presente no CD Líricas de Zeca baleiro. Uma das mais belas letras e músicas que ouvi e ouço.
Danielle Soares
Porto, iniciado no dia 24 e finalizado no dia 25 de maio de 2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Ressurgida



De onde? De quem? Para quem?
Finalmente posso conviver de uma forma mais prazerosa e proveitosa com o meu espaço virtual e, isso me faz sentir o anseio de atualizar...
Atualizar tudo...
Que coisa é essa de "espaço virtual"?
Por quê a "ressurgida"?
Escrevendo esse termo - a "ressurgida" me vem na mente alguém que alterou o rumo da sua vida ou que, simplesmente, deu o ar de sua graça após um longo período de ausência.
Na verdade, reapareço hoje, depois de umas semanas distante do tão viciante e empolgante mundo virtual, mas ao contrário do que os milhares de internautas poderão pensar, eu não me senti a parte do mundo, pois, mergulhei de uma forma mais ampla e despreocupada à leitura e à uma vida um pouco mais real, se é que me entendem.
Aproveitei para viver mais comigo e com o que só os bons escritores podem nos oferecer: crescimento intelectual, pessoal, viajar por mundos jamais vistos, sentir a vida de personagens com os quais nos identificamos...enfim, o período nulo do contato virtual me rendeu frutos positivos...Descobri o quanto é bom deixar de saber de pessoas e lugares...nada melhor do que dá um tempo...
Ressurjo maravilhosamente bem pra ti:
My space ... Cresci um pouquinho mais pra ti...
A distância nos faz amadurecer idéias que sentem o desejo da evasão.
Por isso, voarei...

Danielle