quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O que me traz...Noite o que me traz?


Espinho, Novembro de 2009

 
É noite, noite curta e dourada, preenchida por uma solidificação desesperada
É noite curta que se preenche na claridade que escapa dos meus olhos enraizados nessa espera absurda do nada.
É curta a noite, mas em mim ela dura, dura o tempo que ainda não tenho vivido, dura a espera ansiosa pelo amado, dura como um dia cinzo , chuvoso e frio.
Essa noite curta, dura o tempo do pensamento, que não é mensurável
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Saudade...
É ela quem me invade
Saudade que me engole sem dentadas
Saudade de algo que fiquei por acabar
Saudade de um lugar que não estive
Saudade de pessoas que me conhecem até o último fio de cabelo
Saudade de uma música não tocada ou de simplesmente uma nota que ficou por ser notada
Saudade de uma árvore ainda não plantada
De uma planta sem cheiro
Saudade de olhar aquele pássaro que sonho em ser
Saudade de uma mania
Saudade…é o que me traz agonia
Saudade…
De tudo aquilo que ainda não fui
E de nada que poderei ser
Saudade que me faz sentir viva
Que me deixa preguiçosa num dia de sol
Saudade que me cega a alma inteira
Ó saudade sem fim…
Vem até mim e me traz tudo aquilo que deixei de sentir...

Danielle Soares, Glimmen (NL) 17 de Abril de 2009 - Um belo dia de Primavera...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A ti que segues sem os meus abraços,
Sem os meus passos guardados nos teus espaços,
A ti que um dia não vivia sem mim,
Guarda a pequena e vaga memória do olhar que dispensei para ti.

Por onde andas que já não encontro os teus rastros?
Com quem vais?

Deixei de te pertencer sem entender
Desejei voar sem notar a falta que isso me traz
Meus cabelos assanhados esperam pelas tuas mãos, anjo dourado...
Minha vida pacata aguarda as nossas mãos dadas, unidas pelo sabor do Alvorada.

Aonde vais que já não retornas?
Cavaleiro errante, misterioso e bondoso
Quem levas nos teus encantos, um dia saboreados por mim?

Danielle Soares
Porto, 17 de Novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Tristeza




O meu desejo é que tudo jaz
Meu medo é que tu vás
Meu drama é que desperto
No silêncio daquele que se desfaz.
Corpos engolidos pelo trem que os transportaria ao futuro
Foi o mesmo trem que os deixou em pedaços, como comidos por bichos ferozes
Observo os seus corpos…
Pedaços de carnes, ensanguentadas, presas entre as pedras e os trilhos.
Curiosos se aproximam, pessoas passam mal, outras não piscam os olhos como se fosse pecado perder qualquer segundo que fosse, algumas passam por ali mas nem sequer viram o pescoço para olhar o que realmente acontece. Na verdade sabem, mas não querem compactuar com a crueldade dos fatos.
Esse agora é indecifrável e me aterroriza…
Dois jovens, casal de namorados que pela primeira vez iriam passar um fim-de-semana fora. Imagino que este seria o grande evento da vida de ambos, e nos meus pensamentos chego a vê-los traçando os planos da viagem, olhando o mapa do lugar que continua desconhecido e os vejo felizes, mesmo que, eu nunca os tivesse visto realmente, a não ser agora, nesse amontoado de carnes que choram a sua triste sorte… Olho para tudo isso e não vejo ninguém…
Decido ir embora, deixo aquele lugar com os olhos molhados e os levo comigo na memória.
Não suportaria presenciar a chegada dos familiares, quando ouvi entre a gente que os pais estavam próximos, partir… E, mesmo assim, enquanto caminhava lentamente ainda próximo do local, ouvi gritos, choros e perguntas que se resumiam no “Por que de ter acontecido isto?”
Ainda hoje repito essa mesma pergunta e continuo no vazio que ela mesma me coloca…

*Texto inspirado no suicídio de Robert Enke (1977- *2009)

Escrevi este texto como forma de homenagear o goleiro alemão Robert Enke (de 32 anos de idade) que no dia 10/11/09 se suicidou após um longo período (6 anos) de depressão. Acredito que a capacidade de escrever me permite traçar as questões que me assaltam de um modo criativo. Criando, posso expressar as minhas revoltas e também as minhas alegrias, nesse caso, deixo aqui a minha tristeza e o meu luto.

Danielle Soares, Porto, 14 de Novembro de 2009


Abro espaço para uma reflexão acerca da trágica morte do goleiro alemão Robert Enke de 32 anos de idade, que na última terça-feira (10/11/09) decidiu ou foi levado a pôr fim à sua própria vida. Não sou uma pessoa que lida bem com a morte quando ela envolve o outro, porque não consigo ser conformista nesta questão, e acredito que é natural de todos os seres humanos essa luta constante contra a consciência de que no fim acabaremos todos por morrer…Confesso que esse tema para mim é dos mais terríveis porque sempre fui assaltada pela ideia de terror que provém do ser morto, me lembro que desde muito cedo sinto um certo calafrio quando sei da notícia de que alguém morreu ou foi assassinado ou resolveu acabar consigo próprio. A morte é no sentido geral o fim dos seres mortais, ela nos deixa a total certeza de que caminhamos para ela, de forma paciente ele aguarda por cada um de nós e é exatamente neste ponto que me coloco inconformada e desajeitada diante dela…

Ao saber do suicídio de Robert Enke pela televisão, me senti totalmente triste e iniciei a pensar na sua vida, que pouco conhecia, como se assim, eu fosse capaz de sentir a sua tristeza, os seus medos e a sua fragilidade, pois afinal de contas, visto de fora, ele tinha bons motivos para se querer vivo. Consoante isso, empreendi uma pesquisa a respeito de sua vida para que eu pudesse deixar a minha homenagem já que desde então, não paro de imaginá-lo, o que resulta em mim uma sensação de tristeza. Talvez por gostar muito de futebol e também por não saber lidar com a tragicidade da morte que exponho no meu espaço algumas linhas dedicadas a este jogador que será sempre lembrado pelos que compartilharam e vivenciaram os seus melhores momentos, bem como, os seus momentos mais frágeis. Não foi a minha intenção expor dados concretos de sua vida profissional, familiar e social, mas sim, uma tentativa de participar nos seus medos e na sua triste decisão de anular-se. Por saber que o nosso limite é justamente as emoções do outro que deixei a minha fantasia livre para trihar os seus caminhos...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009



Wengen - Suiça (Inverno 2008)

Eu sou aquela que passa entre uma multidão e não vê ninguém
Aquela que anda despercebida por si própria
Mulher de vidas estranhas
De sentimentos desiguais, irreais e sobrenaturais

Sou aquela que não encontra a sua própria imagem
Nem toca o seu próprio rosto

Dentre todos não enxergo o meu próprio corpo
Caminho solitária e gosto dessa solidão
Cruzo ruas e sinto cheiros de vivências
Mas não enxergo ninguém.

Guardo mundos em mim
Palavras gastas se esgotam aqui
Nesse rascunho,
Que traduz inúmeras tentativas
De me fazer poeta.

Danielle Soares
Porto 05 de Novembro de 2009