Salvador Dalí
Posso comprovar esta luz que surge embaçada e esse vento cinza que se mostra numa desesperada fuga.Fuga dos princípios, das crenças, das hierarquias, das classes, dos ditos populares e de toda essa falta de interesse encontrada na humanidade.
Esse vento chora…
As suas lágrimas misturam emoções, sensações e aspirações
Elas se esgotam em pingos que dizem ser o choro de Deus.
Deus chora?
Será Deus um chorão?
Essa chuva é constante e amedronta os corpos que se escondem em suas casas quentes e iluminadas por luzes muito fracas.
Avisto lá no fundo uma pequena e singela casa, ela é tão pequena que a sinto triste por estar escondida, distante e no fundo de tudo, ninguém vive nela, a não ser as flores que as enfeita e as árvores compridas e quase sem folhas que as rodeiam.
Inicio a minha reflexão…
Deus fala através de sinais, acreditam os crentes. É na natureza que aspiro desvendar esse Deus. Levanto questões a medida que observo essa paisagem – Quero saber sobre o princípio, aquilo que foi, antes de ser exatamente isso que vejo e sinto, e não encontro respostas…
Caminho em solo teológico e encontro a afirmação de que Deus é o Criador de tudo o que os meus olhos testemunham, e de todas as emoções que detenho no meu ser, e mais do que isso, descubro que sou Sua filha – Sua imagem e semelhança.
Uma filha que não conhece o Pai e nem pode, porque segundo parece, ele é oculto, invisível e não pode estar diante de mim, mas como será isso possível se ouvi por aí que Ele é Omnipotente?
Aonde foram parar os meus devaneios? Rio de mim…
Me despeço de Deus, sem conhecê-lo lhe digo: - Adeus!
Como assim?
Deus – Adeus - Observo essas palavras e medito…
Será que o Adeus não é só e simplesmente um gesto de despedida, mas também, a negação de Deus?
Não consigo pensar para além disto: Nesse momento nego Deus num simples Adeus.
E permaneço nos meus devaneios, seguindo a chuva que cai ainda mais forte…
Brinco com as palavras, racionalizo-as de forma que eu encontre as minhas verdades, que a priori, sei que não existem…
Deus – Adeus – Vazio – Abandono – Pai – Criador – Solitário
Deus está só e me joga nesse precipício de ideias tão vagas!
Danielle Soares,
Glimmen (NL) num dia chuvoso de inverno (Dezembro de 2008)