segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Livres devaneios



Salvador Dalí
Posso comprovar esta luz que surge embaçada e esse vento cinza que se mostra numa desesperada fuga.

Fuga dos princípios, das crenças, das hierarquias, das classes, dos ditos populares e de toda essa falta de interesse encontrada na humanidade.
Esse vento chora…
As suas lágrimas misturam emoções, sensações e aspirações
Elas se esgotam em pingos que dizem ser o choro de Deus.

Deus chora?

Será Deus um chorão?

Essa chuva é constante e amedronta os corpos que se escondem em suas casas quentes e iluminadas por luzes muito fracas.
Avisto lá no fundo uma pequena e singela casa, ela é tão pequena que a sinto triste por estar escondida, distante e no fundo de tudo, ninguém vive nela, a não ser as flores que as enfeita e as árvores compridas e quase sem folhas que as rodeiam.
Inicio a minha reflexão…
Deus fala através de sinais, acreditam os crentes. É na natureza que aspiro desvendar esse Deus. Levanto questões a medida que observo essa paisagem – Quero saber sobre o princípio, aquilo que foi, antes de ser exatamente isso que vejo e sinto, e não encontro respostas…
Caminho em solo teológico e encontro a afirmação de que Deus é o Criador de tudo o que os meus olhos testemunham, e de todas as emoções que detenho no meu ser, e mais do que isso, descubro que sou Sua filha – Sua imagem e semelhança.
Uma filha que não conhece o Pai e nem pode, porque segundo parece, ele é oculto, invisível e não pode estar diante de mim, mas como será isso possível se ouvi por aí que Ele é Omnipotente?
Aonde foram parar os meus devaneios? Rio de mim…
Me despeço de Deus, sem conhecê-lo lhe digo: - Adeus!
Como assim?
Deus – Adeus - Observo essas palavras e medito…
Será que o Adeus não é só e simplesmente um gesto de despedida, mas também, a negação de Deus?
Não consigo pensar para além disto: Nesse momento nego Deus num simples Adeus.
E permaneço nos meus devaneios, seguindo a chuva que cai ainda mais forte…
Brinco com as palavras, racionalizo-as de forma que eu encontre as minhas verdades, que a priori, sei que não existem…
Deus – Adeus – Vazio – Abandono – Pai – Criador – Solitário
Deus está só e me joga nesse precipício de ideias tão vagas!

Danielle Soares,
Glimmen (NL) num dia chuvoso de inverno (Dezembro de 2008)

sábado, 17 de outubro de 2009

Um brinde ao amor



Gustav Klint

I
O amor que me prende em olhos fechados de segredos
É esse amor que me joga num leito inteiro
É um amor que me consome num deleito

É um amor solitário
Porque vivo com a certeza de não tê-lo

É esse o meu amor…
Uma espera…

Como uma taça que espera ser preenchida pelo mais saboroso de todos os vinhos;
Como um casal de jovens enamorados que fazem juras de amor num futuro ainda incerto.

O meu amor é espera
E a minha vida é de igual modo um contar dos minutos sem fim.
O meu amor se esconde num vazio ainda guardado em mim

Mas o que é a vida senão esperança?

Esperamos que os frutos amadureçam,
Que os nossos filhos se tornem grandes
Que a bondade possa superar a maldade
Que a conquista se reflita na justiça
E que o amor não se vá para longe demais…

Bastam as feridas, as guerras e os desamores
Quero um olhar, um sorriso e um estender de mãos,
Um amigo que me deixe seguir sem medo e que guarde os meus mais íntimos segredos…

II

O amor é o compasso do descompasso
É a ligeira sensação de que tudo é sinônimo de felicidade
É o conhecimento ilusório de uma certeza fantástica
É o frio que se sente na alma quando se avista o amado
É o beijar longo e demorado
É a abertura de sonhos múltiplos e diversificados
É um nó de línguas ainda amanhecidas
É um olhar que ainda não se fez visto
É o respirar mais do que profundo
É a certeza de que nos unimos no outro
É a vaga ideia de que permaneceremos eternos
Embriagados em mundos apolineos com Dionísio a beber os seus melhores vinhos…

Danielle Soares

Iniciados a 28 de Novembro de 2008 em Glimmen – Holanda e corrigidos no dia 16 de Outubro de 2009 Porto.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aos que vivem ou viveram a melancolia de uma saudade...


        Ilha de Vlieland - Holanda, Maio 2009


A partida corrói e abafa os prazeres vividos,
Dá luz à dor da saudade.
Dor sofrida
Dor amiga - Mulher/Menina...É feminina
É sensível, como a rosa que colhia nos meus tempos de menina;
Misteriosa, como o profundo esconderijo que em mim mora;
É provisória, como o pensamento que já me abandonou agora...
É uma partida feminina!
E não se desespere, quando ela regressar querendo ir embora...

Danielle Soares
Porto, 14 de outubro de 2009




sábado, 10 de outubro de 2009


                                                                              Dedico a minha mãe Neiza Teixeira, amor de alma...

Imortalizando esse céu em mim, imortalizo-a.
Transcendendo o meu espírito na tua beleza, reconheço o infinito...
Podem me roubar tudo e até o que ainda não tenho, mas não roubem essa presença no Universo.
Não retirem da minha existência a fortaleza do meu ser.
É a ti, somente a ti que dedico a minha inspiração de um dia chegar a ser realmente um ser.

Danille Soares
Porto, 10 de outubro de 2009

Uma memória



A espera pelo desconhecido é imensa, para não dizer, infinita - Sentada a beira desse mar brando sinto o desejo de me doar ao barco que aparenta leve e impotente diante dessa imensidão cinza e fria. Observo os pássaros que se aproveitam dessa lentidão sossegada. Do meu canto, grito calada essa paisagem que me assalta os sentimentos da partida...
Foi lá, naquela ilha escondida de tudo, que me reconheci fugitiva, até daquilo que não me pertencia.

Danielle Soares
Porto, 10 de outubro de 2009

* Homenagem a Ilha de Vlieland - Holanda