O quê poderá acontecer?
Desafio essas letras...
Grito com o que me preenche por dentro.
Guardo meus desejos e meus desassossegos.
Te procuro, onde estás?
Papéis sobrepostos
Livros em desordem
Cds espalhados
Uma taça de vinho diante dos meus olhos...
Fotografias pregadas pelas paredes
Rostos felizes
Parada do tempo
Registros de momentos
Hoje, momentos vazios
Congelados naquelas feições ilusórias.
Passa o tempo
O nosso tempo já foi
Estamos ausentes
De histórias.
Envelhecemos as nossas idéias
Nos escondemos no silêncio.
Escravizados pelo tempo
Vivemos...
Vasculho as gavetas
Cartas jurando amor eterno
Anoitece
Mudo de direção
Guardo o passado
Aguardo o futuro
E piso o presente com os pés descalços
Sinto o solo quente, que machuca os meus pés já calejados.
Recolho a folha que cai
Solitária folha
Folha já morta
Que traz vida aos meus olhos
Vou seguindo
Na noite que chega calorosa
Sinto o ar de tudo tocando o meu rosto
Sorridente
Me jogo nela
Me derreto com ela
Sonho a partir dela
Me fecho para ela.
Te reconheço
Distante de mim
Te vejo a caminho dela
Te deixo ir
Mudaste?
Caminhas lentamente
Roupas largas
Cabelos ao vento
Bela a luz que vem da lua
Minhas pernas querem te seguir
Mas não, tu já não és o que conheci
Fico onde estou.
Permaneço ali, naquele canto pouco notável.
Escrevendo os meus delírios
E retirando da loucura
A real certeza de ser humana.
Porto, 18 de julho de 2008