sexta-feira, 19 de novembro de 2010



Cinzento, molhado
Encharcado
Usurpador e calado
É o tempo
Chorado e icógnito é o seu sabor

Folhas caídas
Árvores são galhos solitários
Luz apagada
Olhos sem cor
Palavras soltas e tremidas
Mãos frias
Beijo selado
É o tempo visto em pedaços
Recorro ao aquecedor...

Enxergo o calendário
Mal começou Novembro
E já se aproxima Dezembro
Dias vazios outros preenchidos
Assim mais um ano se vai
Despedindo-se em águas geladas
Num nevoeiro que encobre tudo o que é exagero.
                                    
Outono invernal
Temporal
Crise existencial
Corto o laço umbilical
Despeço-me do tempo
E lamento o trago que fiquei por fazer
Antes de chegar Novembro...

Danielle Soares
Porto 19 de Novembro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Rompimento

Glimmen - Nederland Inverno 2009/10

Eu não quero isso, de verdade, não quero.
Eu não quero aquilo, de longe, não quero.
Também não quero aquele e nem o que vem depois dele.
Tampouco quero a projeção do que vem a seguir a isso que chamo "querer".

E se tudo o que não quero se fizesse concreto?
E se todos esses medos em querer chegasse, juntamente com esse vento que vem de tão longe?
E se o meu querer diexasse de lado o "não" e abraçasse como irmão a verdade que me cega?
E se nesse exato momento eu deixasse de saber o que realmente quero?
E se me faltassem as reflexões, o raciocínio e o fascínio por isso a que chamo pensamento?
E se o nada que hoje tenho passasse a ser tudo o que hei de ter no futuro?
E se as palavras diluíssem assim como o algodão doce que tantas vezes saboreei nos meus tempos de criança?
E se a energia que me habita decidisse pisar outros seres?
E se eu, não mais desejosa, quisesse ir embora, para qualquer outro lugar que me fizesse estranha aos olhos dos meus?

Quantos não quereres tornam-se quereres na minha total confusão de ser o que hoje sou...

Danielle Soares
Porto, 06 de Outubro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O lamento do Poeta

Hoje acordei poeta, com medo de sentir dor
Ontem dormi com a alma de artista, criando em sonhos estórias distantes
Hoje sou poeta e grito em silêncio o sentido do meu existir

Essa luta entre o que sou hoje e o que fui ontem
Incita-me a querer a revolução do meu ser
Virar do avesso os meus princípios
Pôr pra fora o que longe de mim continua
Falar as frases que nunca organizei nas idéias
Descobrir as vidas que sigo pelas sombras
Ouvir palavras sem sentido e rir com elas
Abraçar o inimigo
Matar o íntimo

Dormi e sonhei ser gente grande
E hoje acordei esse poeta medroso que corre da vida traçando versos...

Danielle Soares
Porto, 24 de Setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O retrato

Espinho - Portugal 07/2010

Há quanto tempo deixamos de pisar as mesmas ruas
Quantos foram os momentos que sozinhos presenciamos
O pôr-do-sol da praia dos prazeres
E quando cansados, quantas foram as vezes que adormecemos colados um ao outro
E quando despertos, perdi as contas de quantos foram os pedidos de permanência...
De quantos "em quantos" tivemos momentos
De momentos em momentos inventamos histórias deliciosas
De memórias em memórias criamos saudades
E quantos "eu" deixei escapar para que eu pudesse te sentir refugiado em mim!?!

Danielle Soares
Porto, 15 de Setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Mulher da tez morena



Qual será o dia em que irei te encontrar


Quando poderei te ter nos meus abraços cansados de te esperar

Quantos serão os nossos desabafos?

Ah, quanta é a vontade de te amar...

Chega de planejar o dia que virá

E corre para o meu canto desesperado

Que conta os dias que passa sem te avistar

Mulher da tez morena, dos lábios vermelhos

que guarda os segredos que quero saborear

Vem sem medo e desfaz o meu leito...

Invade o meu peito e murmura os teus anseios,

e prolonga essa noite iluminada pela lua

que não cansa de te admirar

Ah mulher do corpo desenhado

pelas mãos de um deus que brincando

te inspirou de vida para que eu pudesse te adorar...

Ah mulher da tez morena

Que me faz poeta e sonhador nessa espera que supera a própria dor...



Danielle Soares

Porto, 29 de Agosto de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Falta qualquer coisa, qualquer coisa falta Mas o que é essa coisa?
Será que é realmente de uma coisa que sinto falta?
Não seria melhor denominar essa coisa?
Não seria mais justo procurar definir cada coisa que sinto falta?
Nessa altura faltam-me as palavras, os termos justos para suprir a falta dessa coisa que ainda me falta...
Posso supor que essa coisa é uma flor, uma pessoa, um lugar, um sabor, um sonho ou simplesmente uma felicidade que escapou...
Essa falta parece ser exatamente daquilo que não conheço ou daquele que nunca vi.
Falta é ausência, é afirmar que há uma lacuna que deve ser ainda preenchida, assemelha-se a um buraco numa rua movimentada que deve ainda ser recomposto, mas que nem por isso, essa mesma rua deixa de ser utilizada, cumprindo assim o seu fim.
Esperar na janela, diante do espelho, sentada num banco após um longo passeio...
A falta vive de uma esperança, de uma certeza que se funda numa total escuridão, ela resiste a ela mesma porque ao suprir a si mesma ela regressa ao seu princípio, que é o de permanecer na melancolia de que qualquer coisa ainda falta.

Porto, 26 de Julho de 2010
Danielle Soares

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O sabor que me chega a boca é doce como a nota que anuncia o raiar do dia.
É de tal forma intenso esse gosto, que sozinha passo a sentir vidas, e a sorrir destribuo o sentido do meu existir.

Danielle Soares
Porto, 14 de Julho de 2010

domingo, 27 de junho de 2010

E Tudo Sei de Ti

* Seguindo um sonho, uma paixão e uma ousadia...Durante alguns dias na companhia de um violão e relembrando um pouco do que fiquei das minhas aulas de música na infância, escrevi esse poema que se fez música em mim...A admiração pela escrita e pela música faz-me ambiciosa diante da possibilidade de criar...



Eu te olho quando nem fazes idéia
Te observo quando ninguém olha pra ti
A todo o momento estás sob o meu olhar
E tudo faço sem que me percebas
E quando chegas me dizendo qualquer coisa
Ouço e finjo surpresa
Mas a verdade é que estás na minha anima

E tudo sei de ti
E tudo sei de ti

E tudo faço de forma que não me percebas
Para que não destruas as minhas fundadas incertezas

E tudo sei de ti
E tudo sei de ti

Acompanho o balanço do teu andar
Me delicio com o teu sorriso, sem compromisso
E durmo ouvindo a tua música tocar
E desperto com o teu olhar...

E tudo sei de ti
E tudo faço sem que me percebas
E quando chegas me dizendo qualquer coisa
Ouço e finjo surpresa.

E tudo sei de ti
E tudo sei de ti
E tudo sei de ti
E tudo sei de ti

Holanda, 23 de Abril de 2010


sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago



Os que te admiram passam esse dia com um peso inconsolável e imesurável da dor...

Parece-me estranho pensar que já não estás, e saber que já não chegas é o pior que posso pensar.
Uma vez vi-te de longe, numa das feiras de livros realizadas nessa cidade do Porto, dizias palavras, eras tão sereno...Conhecia-te não da mesma forma que te conheço hoje, saí daquele espaço cheio de gente, curiosa por saber o por que daquele enamoramento que despertavas no outro e em mim. A partir de então, passei a ser uma leitora fiel, curiosa e desejosa de descobrir as tuas estórias; passei a devorar as páginas dos teus livros da mesma forma que muitas vezes sou devorada pela ansiedade.
A tua próximidade passou a ser uma constante em mim e hoje digo e repito quantas vezes forem necessárias, SOU ÍNTIMA DE TI ... Por isso choro essa tua partida mesmo que eu não acredite que nesse exato momento deixaste de estar.
Resta-me ler as tuas obras, sentir as tuas estórias, cheirar as terras pelas quais passas, conhecer pessoas com as quais estabeleces um diálogo e pensar que és extraordinário...Foi e continua sendo esse o pensamento que preservo para ti.
Quantas vezes não exclamei sozinha: - Como quero ser igual a essa pessoa!
Deixas no meu ser a certeza da tua grandiosidade como homem e como escritor e por não saber mais o que escrever a ti digo apenas que continuarás existindo em mim, na mesma intensidade de quando abrir pela primeira vez "Deste Mundo e do Outro".

Descansa em paz José Saramago
 16/11/1922 - +18/06/2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Reciclagem

Abri o meu blog com o intuito de mudá-lo, pois assim como eu ele também não suporta a mesmice dos dias...
Sempre fui assim, lembro que sempre tenho que mudar qualquer coisa, não em mim, não no meu corpo, mas no que está exterior, por isso que quando vejo que nada acontece de diferente nos meus dias, chego em casa e o que me domina é uma vontade de mudar os móveis de lugar e assim faço, tantas vezes fiz isso e sei que muitas ainda farei e sinto que quando saceio esse meu desejo sinto-me bem comigo mesma e sou capaz de encarar melhor a repetição dos dias e dos deveres.
Hoje fiz no meu blog, já não sentia entusiasmo ao abrí-lo e vê-lo sempre com a mesma cara, com a mesma cor e com as mesmas palavras...Portanto, ao invés de mudar a cama de lugar, mudo a cara daquele que aguenta os meus desabafos, que suporta as minhas insanas aflições e as minhas loucas inspirações...
E por não estar no meu melhor período criativo, deixo esse texto como prova de que ele continua a ser lido e pensado por mim...

Danielle Soares
Porto, 16 de Junho de 2010.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

                                                               Vondelpark - Amsterdam (Abril 2010)      
Encontra-me
Na força do meu olhar
No silêncio das palavras interrompidas
Deitada no leito dos desejos loucos de um beijo por começar.

Deixa-me
Com força, no silêncio do meu leito
Na minha certeza de ser eterna
Completa, na minha verdade que me protege

Danielle Soares
Porto, 06 de Maio de 2010.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Amsterdam


                                                                       Amsterdam - Abril 2010
Sabe aquele lugar, de segredos, de surpresas, de casas estreitas e inclinadas, onde uma multidão murmura pelas suas ruas um desejo de permanecer nelas até que transbordem em cada um o conhecimento do seu próprio eu?
Um lugar que deixa a sensação de que não impera a injustiça, a violência e o apetite voraz dos homens pela soberania...
Caminhando por aquelas ruas, sendo só mais uma que por ali passava despercebida, quis saber quem ali vivia.
- A entristecida Sofia. Repetia tal frase para as minhas inquietas questões.
E por quê Sofia e não Maria? E por quê uma Sofia entrestecida?
Porque naquele lugar era a sabedoria que ganhava vez e, não era a melancolia de uma Maria, nem o destino trágico de uma jovem deprimida, por isso, apenas se podia chamar Sofia a guardiã daquele espaço quase utópico e surreal.
Uma Sofia entristecida que ali habita...Triste pelo simples fato de se sentir esquecida, de não se vê buscada pelos que pisam no seu solo, por ser uma possibilidade e não uma realidade, por começar em si e findar no seu próprio princípio.
Naquele lugar eu respirei a arte, a possível concretização de um espírito criador e no meio de uma multidão eu enxerguei a solitária Sofia que observava da sua casa estreita os que ali passavam e fiz planos de um dia subir as suas escadas e agradecer o seu surgimento diante dos meus olhos e apertar as suas mãos com o sorriso na face por ela continuar sendo uma possibilidade no meu ser curioso e sedento pelo saber.

Danielle Soares
Porto, 03 de Maio de 2010.

terça-feira, 6 de abril de 2010

A música em mim

                                                                   Amsterdam - Holanda 04/10
É essa guitarra e essa voz que me portam uma memória
É uma história que bate na minha porta, que me revira do avesso
Fazendo-me tragar o meu começo

Me desconheço

Solitária é a guitarra e mais só é o olhar que me quer seguir
Semelhante destino quero alcançar

Vem embebedar-me som altivo
Encoberta-me com a tua melodia
E como um rouxinol
Faz-me entoar cantos diversos
Em algum lugar deserto
E que sigam os meus rastros os que saibam reconhecer um lamento entorpecido
Pelo som que vem dos acordes por ti feitos e refeitos

Experimento o som, canto alto, forte, continuamente, canto calado...
Alcanço rostos cansados, mãos livres e apegadas, corpos nus e comportados, pessoas sóbrias que se dividem nos segredos das suas loucas estórias
Invado leitos, pensamentos e tudo está feito...

Renasço

Canto para que Deus me escute e nada posso esperar

É a vida que veio e quer ficar
E me joga na caótica cidade, na diversidade, na tempestade que insiste em continuar e assim permaneço – Nos meus secretos lugares revivendo uma lembrança que há muito deixei escapar.

É a música que vive em mim e não quer me deixar...
E canto pra Deus
E Ele não quer me escutar
E digo aos homens que quero ficar...

Danielle Soares
Glimmen, 06 de abril de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

Tem dias...

Quem nunca passou um dia simplesmente por passar?
Quem nunca deixou as horas nas mãos imensas e ocupadas de Deus?
Quem nunca apostou num amanhã incerto?
Quem nunca viajou com os pensamentos para o deserto?
Quem nunca deixou de falar por um aperreio?

Nessas horas, nos quais deposito os meus anseios eu capto os meus desejos que não são mais do que uma conta que soma meus medos, subtrai meus segredos, multiplica meu ser inteiro e divide o meu sossego...

Tem dias como esse, que não se percebe o acontecer da vida, que não se sente a fome da curiosidade até agora mantida, que não se lembra dos grandes amores deixados nas estradas perdidas...
São dias como esse que suportar a lida, a vida, a briga, a mordida é demais para uma mente desprevenida.

Mas o quê seria melhor, a vida maldita ou a vida perdida?
Se a maldizemos é porque um dia conhecemos os seus prazeres. Pensando bem, perdê-la é pior do que passar por um dia como esse!!!

E por que eu escrevi tudo isso?
Vai vê eu tô num dia daqueles...

Holanda, 19/03/2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Longe de casa, dos meus ares e da minha fonte de existência
Vivo cada dia na sua finitude,
Na finitude de que quando fecho os olhos para dormir tudo acaba
E chegam os sonhos, os sabores, os cheiros dos que me são tão caros

Da janela do meu quarto sinto a luz do dia que chega cada manhã
E incomodada pela claridade, mesmo que pouca, que toma conta do espaço
Desperto-me
É mais um dia que chega e á mais um dia que findará assim que eu fechar os olhos para dormir
Sinto como se vivesse para esse momento - o da anulação dos dias e o esperar dos sonhos.

Longe de casa e da minha estrada
Sigo ainda mais ousada, ainda mais forte, ainda mais determinada
Porque é longe de casa, dos meus ares e dos que me são fonte que aprendo a ser mais eu...
Eu sou a dor da saudade...

Holanda,03 de Março de 2010
Danielle Soares

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O amor retornado reabre um passado
Enconberto em loucuras fantasiosas e melódicas,
Que há muito não sentia.
A minha mente está cheia de ti
E os meus olhos se cansam da tua presença invisível.
E os meus desejos são unicamente teus...

Pressinto a tua volta e já me dou como morta
Anjo caído diante de mim
Notas musicais soltas entoam do teu canto,
Fazendo desse espaço o teu apogeu
E como serva, bebo e trago a tua veracidade...
E como mulher deixo a minha sobriedade

Holanda,21 de janeiro de 2010.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Quando o adeus está próximo



O meu esconderijo.

É quase chegada a hora de dizer adeus e nessa atmosfera invernal esse adeus aparenta ser mais duradouro e doloroso.
Quero fugir dele, não vivê-lo, não enxergá-lo no momento em que chega, não quero experimentá-lo uma vez mais...Mas ele surge, e devorando os meus pensamentos o sinto bem mais forte que eu.
As lágrimas que caem servem para esquentar a minha face gelada e os abraços que vou recebendo a medida que vejo pessoas queridas pela última vez, aquecem o meu corpo frio e os olhares dos que me são fonte de existência me possibilitam olhar para horizintes não meus, vidas não minhas e para os meus sonhos ateus...

Danielle Soares
Porto, 21 de Dezembro de 2009

domingo, 3 de janeiro de 2010

Me fascina quando passo a entender o fundamento dos meus atos
Eu gosto disso que surge do meu reboliço
Inevitável é o amor que vem sozinho
Tornando duplo esse querer que há pouco era uno.
Inevitável é o querer de amar você...

Danielle Soares
Gliemmen, 02 de Janeiro de 2010