terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Racionalizando o amor

Dedico a todos os que possuem a capacidade de amar

Amor

Preso nos olhos
dos que irradiam segredos.
Que imperam no leito.

Espera ansiosa.
Como a taça que
será do vinho.

Como um casal
que faz juras de amor
em um futuro
incerto e distante.

A embriaguez
que faz viva
a espera em ser
o que não se
saber ser só.


Danielle Soares
Glimmen, 23 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


Dedico aos meus irmãos gêmeos,Paulo e Daniel que ontem(18/12)cumpriram mais uma primavera.Amo meus irmãos...

Paraliso o tempo. Rememoro um ato deixado debaixo de uma coberta rasgada.
Lá continua quente e a frieza de um dia inquieto permanece.
As palavras chegam e, inconscientemente, vão ao vento.
Por quê seguir ouvindo-as?
Para se erguer na paisagem sombria que se prolonga na inconstância de ser.
Pobres palavras negadas, evaporadas e amargas... Palavras.
Fragilidade arremessada.
Forte fragilidade que devora a alma doente; que como uma pluma conduz por becos.
Na escuridão de um mundo egoísta, se é embebida

Saboreiam a pobre mulher esquecida no tempo!

Na cegueira visível
silêncio.


Danielle Soares
19/12/08

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A fantasia de ser vazia é minha.
Os meus desejos são vãos
E a tua boca está nua.

O sonho é nosso
A lua nos pertence
O leito é teu
E nele sou tua.

É a tua explosão
Sou sugada pelos teus desejos
E me entrego a ti desinibida.

Na melodia do samba
Movo o meu corpo
Pra lá e pra cá...
E nesse compasso sou totalmente nula
Porque sou tua.

Dani
Glimmen, 12 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A falta

Da janela do meu quarto(Glimmen)


Os dias são cheios de tarefas, há sempre qualquer coisa para fazer o que me deixa sem tempo para aquilo que mais admiro na vida - A Escrita. Infelizmente o trabalho e os estudos têm o poder de me distrair...Me falta tempo para me dedicar ao blog, aos pensamentos e as questões que me assaltam todos os dias.
Estou em Glimmen, Holanda onde uma paisagem extraordinária preenche o meu olhar e o meu ser, aqui encontro possibilidades de vir a ser alguém na arte, na escrita e na humanidade. Em nenhum outro lugar me senti como me sinto hoje, certa de que devo escrever sempre e cada vez mais.
Os artistas, pintores e escritores já diziam, na Holanda se pode encontrar uma luz natural que nenhum outro lugar oferece, e isso tenho tido a sorte de comprovar...Todas as manhãs quando saio de casa com destino a escola com a bicicleta posso constatar esse cambio de luzes, as folhas no chão, as ruas e os prados molhados, o cheiro, a chuva que cai, a neblina constante...um sol quase que impenetrável - É a paisagem tipicamente holandesa..um outono belíssimo, visto de casa é inspirador...
Subo as escadas e me vejo escrevendo...Sonhando num futuro como escritora e abrindo a minha mente com destino à liberdade.
Holanda é liberdade, sempre a vi assim e hoje sinto que ela é a minha liberdade porque a sinto assim, uma liberdade no pensamento, uma liberdade de olhar essa paisagem e sentir o desejo de trancrevê-la...Um bicho enorme está dentro de mim e ele grita sempre que olho essa paisagem, ele quer se mostrar ao mundo - e ele é ela...ele é a escrita, uma escrita livre, mas que precisa de sentir, ver, tocar e observar o mundo.
Ninguém é na solidão, nem os solitários se podem dizer solitários absolutos...
A solidão existe quando sinto que devo criar para o mundo, mas depois ela se evapora...vai...
E o bicho grita ainda mais alto, a luz muda, chega o dia que parece noite e o espírito acompanha essa indecisão no tempo...Alguém parece apagar a luz da Holanda e depois brincando, acende e apaga e acende até que se cansa e chega realmente a noite...uma noite cinza, fria onde se sente a amplitude e o infinito do mundo. Isso é Holanda!
E vou descobrindo o meu lugar e vou gostando de ter isso nas mãos e no pensamento...
Quase sem tempo para escrever no blog, mas criando e cada vez mais textos que ambicionam ser mais que simples textos,por isso, a escrita não me deixa nunca.

P.S. Escrevi para desculpar a falta diante dos que costumam visitar esse meu aconchegante lugar...Tenham uma ótima visita no meu blog e esperar nunca é demais...

Glimmen, 06 de novembro de 2008

Danielle Soares

domingo, 28 de setembro de 2008

Desejo para o Tempo

Ilha de Vlieland (Holanda)

Dedico a minha mãe que no dia 17 desse mês cumpriu mais um ano...é o tempo...

É a passagem do tempo, aquele que não deixa possibilidades para escapar e, por isso, insisto em pensar nele e quanto mais penso, mais me aproximo da sua crueldade.
O tempo é meu e eu não quero ser dele, mas ele me prende e me sufoca na sua vastidão infinita.
Te pergunto tempo: Quando deixará de pôr diante da minha razão que és tu o grande senhor do mundo?
Não há fortaleza que te supere nem pedidos que te parem porque és o incontrolável contador de histórias e o porto onde os homens bucam as suas certezas.
Olho para ti e deixo contigo a minha vivência jamais vivida na sua totalidade.
Me jogo na tua indecisão que nada mais é do que a minha própria indecisão.

Tempo de ser mulher, tempo para ser mulher e conhecer no meu corpo o suor que escorre como lágrimas de um homem que lamenta a perda da sua juvenil vivacidade. Me vejo em ti...
Tudo em ti é fuga e quero partir contigo, mas te sinto egoísta, livre e forte, tudo o que o homem pensou um dia ser.
Tempo, aquele que está distante, aquele que jamais poderei guardar comigo, no entanto, tu és aquele que molda o meu corpo e que faz crescer em mim a obsessão por uma liberdade solitária. Mas ao invés de me acolher, tu me rejeitas, talvez, por eu ser a que clama por ti com a dignidade de uma aprendiz da escrita.

Por quê esse querer absurdo ou esse absurdo querer?
Porque sou sonhadora e a vida não é vida sem sonho.
Sonhar é ter nas mãos tudo e se deixar querer mais do que cabe nelas; sonhar é deixar falar a voz silenciosa que se esconde em algum lugar que se encontra não se sabe onde; sonhar é amar o que nunca se viu e nem se verá; sonhar é ouvir uma música e pensar que é simples, que basta ter papel e caneta para lhe fazer completa e plena; sonhar é acreditar que o mundo pertence a uma só pessoa; sonhar é aceitar que tudo se faz quando se encontra a pessoa justa; sonhar é querer ser feliz mais que 24 horas; sonhar é tudo isso e não é nada...
Ser sonhadora é sinônimo de ser humana e ser humana implica ter a consciência de que a vida se cumpre em ti...Tempo...Um tempo que se apresenta diante de mim num mistério indizível e total, que me possui num só abrir e fechar dos olhos, que me marca a pele, deixando-a flácida e marcada pelas rugas que me preenchem a face, no entanto, só me sinto viva em ti. Por isso, como seria se num belo dia, carregado de névoa e quase invisível, tu resolvesse se ausentar?
Será que tu serias egoísta ao ponto de anular tudo?
Tempo, tempo de todos e de ninguém...
Quero por um minuto te sentir inteiro, sem segredos e sem medos, para saber qual a forma mais certa para conceber aquilo que se coloca diante dos meus olhos.

Te suplico tempo, me faz aceitar os teus sinais que chegam na neblina que preenche a paisagem desse lugar cada manhã. Me permita viver uma vida movida pela energia que sai dos meus sonhos e que os meus desejos sejam os teus próprios desejos e que a minha pele possa retratar a leveza estética de uma obra talhada para a sua mais perfeita explosão.
Não me abandone antes do fim, ao contrário, me dê ainda mais tempo antes de lá chegar, para que eu possa mergulhar ainda em ti, sempre e cada vez mais, quero me jogar para ti e me sentir absorvida por aquilo que tu escondes para além do que se pode sentir.

“Ti prego!”, dizem os italianos, e não encontro em outra língua, uma expressão mais forte que esta para suplicar com verdade e necessidade o meu desejo. “Ti prego” – numa forma chorada, (um chorar quase sem fim) que tudo em mim seja um depósito para te receber mais e mais vezes, não importando a ordem, eu só quero que tu possas cair em mim como um casal de namorados que se entrega pela primeira vez ao amor.
- Vem tempo, vem comigo deixar falar a vida carregada de sonhos, baila comigo na multiplicidade e no compasso do vento que marca o ritmo natural das coisas!
Tempo, tempo...Tempo de ninguém é tempo egoísta, porém, dividi-se no Todo;
Tempo, tempo...Tempo fugidio é tempo livre, porém, marca a todos;
Tempo, tempo...Tempo constante é tempo forte, porém, medroso de partir sozinho...

Danielle Soares
Vlieland (Holanda), 20/21 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Finitude

Escrevo a ti ausência perdida
Escrevo para que em ti
Eu encontre saída.

Escrevo a ti presença
Para que no outro
Eu permaneça eterna.

Escrevo a ti Cinderela
Para que na tua fantasia
Eu me conheça verdadeira.

Escrevo a ti natureza
Para que na tua força
Eu me busque guerreira.

Escrevo a ti vida
Para que na tua pluralidade
Eu me sinta forasteira.

Escrevo a ti amor
Para que no teu ápice
Eu me torne beija-flor.
E deixe cair em mim
A juventude que brota
Da icógnita dor.

Escrevo a ti, a ele, a ela
Escrevo a mim e ao mundo
Como forma de aliviar
Essa mísera dor.

Chega beija-flor
Me beija inteira
E leva contigo
O meu desejo de ser Criador.

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Voa, pássaro voa
Me eleva...
Enquanto te observo leve, solto e dono da infinitude.
Te invejo...
Será que te perdes nessa imensidão?
São tantos que Um parece ser Todos.
Não pouses nunca
Porque o mundo é sujo e podre
Continues aí...Distante de nós.
Agradeças, porque esse poder, ainda não te roubamos.
Somos isso: Desejamos o impossível e quando não o conseguimos,
Páramos a te observar...
Voa, pássaro voa
E prometes sempre voltar...

Danielle Soares
Porto, 05 de setembro de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Avanço nas minhas crenças
Reconheço a sua solidão
E me detenho em suas mãos.
O relógio antigo solidifica o tempo
E as suas palavras proclamam Deus.
Ambiciono a fuga.
A minha e a sua fuga...
Quero doar a você a liberdade de um pássaro.
Mas você prefere a prisão,
A prisão que não é só sua, mas de milhões.
Quero fugir,
Agora, preciso fugir...
Você me agarra e me estabiliza
Estou no chão
Enxergo sobre mim o teto sem manchas e longiquo
Abro os braços replicando Cristo na cruz
Sofro em silêncio.
Olho em sua direção e inicio a compreender a sua dor
A tristeza mergulha no seu corpo
E você busca conforto nas suas palavras que te aproximam de Deus.
Eu ignoro, nada ouço
Permaneço jogada no chão
Com os olhos molhados e os pensamentos despertos
Corpo estabilizado e cansado
Tento sair mas você me paralisa
E o chão permanece meu irmão.

Ouço os seus sussurros:
-É o fim...Fim dos tempos...
Sinto medo dessa proximidade com o nada
Messiânicamente você grita:
-Ele está prestes a chegar!
-Se prepare, é o fim!

Quero fugir e mais uma vez ignoro a sua loucura.
Tudo deixou de ter sentido
Já não há razão.
Como criança faminta você grita
E cada vez mais sou invadida pelo medo e desespero
Intacta e paralisada molho a minha face
Com um choro ansioso por consolo.

Lembro você ainda louco
E ainda preso
E inicio por compreender o desassossego.
Aquele que invade mente e corpo
Que anula o antes, nada existe antes dele.
E por isso precisa cuspir o agora
E vomita a sua doença.
Vomita em excesso
Me causando a estúpida sensação
De que tudo em você é vácuo.
Um saco vazio...
Depois daquele vômito
O louco se tornou um saco de pano vazio.

Danielle Soares
Porto, iniciado a 19/08 e finalizado a 27 de agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A pureza de uma casa

À minha irmã Naiara que no dia 29 completará 22 anos.Te amo...
A casa se encontra suspensa no ar, dá a sensação de que ela não toca no chão. É acizentada, tem janelas compridas, estreitas e espelhadas. É uma casa totalmente simples, solitária e suspensa para que possa alcançar o céu. Ela parece não ter base na terra, em compensação, está de mãos dadas com o azul infinito.
Estranha sensação...
Agora que a observo, os meus olhos se prendem cada vez mais nela, me dando a leve impressão de que ela também me observa gentilmente. Faz- se neste instante a comunhão entre o meu ser e a casa.
É antiga e protegida por um alto e extenso muro cor da lua. É um cinza marcado pelo tempo que guarda nessa cor a sua passagem pelos séculos. Da mesma forma que essa cor me causa a sensação do passado, do antigo ou do simples passar do tempo, as árvores finas e altas, as plantas e as flores colorem a paisagem e remtem à casa o sinal de vida e de presente.
- Que exuberância! Maravilhosa imagem que os meus sentidos conseguem absorver em mim.
Ela está fora do lugar, fora do espaço, porém, é dotada de autonomia e magnitude tão fortes que chega a anular todos os outros prédios e casas que estão a sua volta.
A casa não é pintada, penso até que nunca foi de outra cor a não ser dessa: cor de cimento, cor da pureza, cor da natureza bruta, cor daquilo que permanece virgem e intacto, cor da inocência e do desejo de vir a ser nossa. É uma casa de poucos porque não são todos os que param minutos a abservá-la para compreendê-la na sua crueza.
Olho as janelas e percebo que os detalhes têm ainda vestígios do verde que outrora foi vivo. E, é nesse exato momento, que chego a compreender que ela está coberta de histórias. Apesar da sua simplicidade e de sua forma discreta de estar no mundo, ela protegeu inúmeros corpos, objetos e camuflou infinitos segredos.
Permaneço parada observando a casa cor de cimento...
- Não, cor de cimento não! É cor da lua, porque ela deve ter o tempo do começo, do início e não o tempo do fim ou da transformação.
Do seu espaço ela preenche os meus olhos curiosos e me causa uma reviravolta no espírito, passo a sentir um forte desejo de fazer dela, unicamente minha.
Me imagino fotografando-a, fotos de todos os ângulos, justamente, para fazer dela a minha certeza do tempo que não cessa. Encaixo a paisagem e mentalmente fotografo essa imagem, eternizando-a em mim...
Os meus sentidos analisam tudo o que dela chega...Não captam nada para além daquele Todo que se resume na cor cinza, ou melhor, na casa cor de prata, cor da lua, melhor ainda, cor de lua prateada.
É dia, o sol está forte o que faz da casa ainda mais viva. É uma beleza extraordinária.
Penso na fotografia e nada mais...Devo ainda retornar aqui para levá-la comigo...
Descobri observando-a, o prazer da fotografia.
* No dia 06/08 fui passar a tarde na casa de uma amiga que há 2 meses se tornou "mamãe". A caminho de sua casa me deparei com a paisagem que descrevo no texto, com a tal "casa cinza" e naquele momento deixei de ouvir o que a Mônica falava e passei a viver a imagem que se apresentava diante dos meus olhos, por isso, não podia deixar de registrar e homenagear tal momento: Rico de beleza e de descoberta. Foi exatamente na Rua Monsanto (Porto).
Danielle Soares,
Porto, 06-07 de agosto de 2008
Nota: Devo lá retornar para fazer uma fotografia e expor aqui...no meu blog...

terça-feira, 22 de julho de 2008



I
A noite está calma
Ouço o barulho do mar
Meus pensamentos mergulham
Naquilo que os meus olhos
Não conseguem captar.
Deixo a noite falar...
- Vem! Diz ela.
- Para onde? Respondo.
- Para a noite que te quer fazer mulher!
Disse-me ela.

II
Maliciosa noite mulher,
Gasta os meus desejos
Acende o meu corpo
Me deixa naufragar nos teus segredos.
Me faz profana e consagra
Minha alma fria e calorosa.
Joga o teu véu escuro
E me guarda na tua maldade bondosa.
Me faz mulher
Me deixa morrer
Com o suco dos teus frutos
Que guardam o gosto do pecado puritano.

Porto, 21 de julho de 2008

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Reconhecimento

O quê poderá acontecer?
Desafio essas letras...
Grito com o que me preenche por dentro.
Guardo meus desejos e meus desassossegos.
Te procuro, onde estás?

Papéis sobrepostos
Livros em desordem
Cds espalhados
Uma taça de vinho diante dos meus olhos...

Fotografias pregadas pelas paredes
Rostos felizes
Parada do tempo
Registros de momentos
Hoje, momentos vazios
Congelados naquelas feições ilusórias.

Passa o tempo
O nosso tempo já foi
Estamos ausentes
De histórias.
Envelhecemos as nossas idéias
Nos escondemos no silêncio.
Escravizados pelo tempo
Vivemos...

Vasculho as gavetas
Cartas jurando amor eterno
Anoitece

Mudo de direção
Guardo o passado
Aguardo o futuro
E piso o presente com os pés descalços
Sinto o solo quente, que machuca os meus pés já calejados.
Recolho a folha que cai

Solitária folha
Folha já morta
Que traz vida aos meus olhos

Vou seguindo
Na noite que chega calorosa
Sinto o ar de tudo tocando o meu rosto
Sorridente
Me jogo nela
Me derreto com ela
Sonho a partir dela
Me fecho para ela.

Te reconheço
Distante de mim
Te vejo a caminho dela
Te deixo ir
Mudaste?

Caminhas lentamente
Roupas largas
Cabelos ao vento
Bela a luz que vem da lua
Minhas pernas querem te seguir

Mas não, tu já não és o que conheci
Fico onde estou.
Permaneço ali, naquele canto pouco notável.
Escrevendo os meus delírios
E retirando da loucura
A real certeza de ser humana.

Porto, 18 de julho de 2008

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Homenagem

À minha mãe: Neiza Teixeira

Ronda para adorar o que queimei

Há livros que lemos sentandos num banquinho
Diante de uma carteira escolar.
Há livros que lemos andando
(E é também por causa do formato);
Uns são para as florestas e outros, para outros campos,
Et nobuscum rusticantur, diz Cícero.
Alguns há que li na diligência;
Outros, deitado no fundo dos celeiros de feno.
Há os para fazer crer que temos uma alma;
Outros, para desesperá-la.
Há os em que se prova a existência de Deus;
Outros, em que não se consegue fazê-lo.
Há livros que não é possível admitir
Senão em bibliotecas particulares.
Há os que receberam elogios
De muitos críticos autorizados.

Alguns há em que só se trata de apicultura,
Que certas pessoas acham algo especializados;
Noutros fala-se tanto da natureza
Que não vale mais a pena passear, depois.

Outros há que os homens sensatos desprezam
Mas que excitam as criancinhas.

A alguns chamam ontologias
E neles incluíram tudo o que de melhor se disse a propósito de tudo.
Há os que desejariam fazer-nos amar a vida;
Outros depois dos quais o autor se suicidou.
Alguns semeiam o ódio
E colhem o que semearam.
Alguns, quando os lemos, parecem brilhar,
Carregados de êxtase, deliciosos de humildade.
Há os que amamos como irmãos
Mais puros e que viveram melhor dos que nós.
E os há impressos em caracteres extraordinários
E que não compreendemos, mesmo depois de tê-los estudado muito.

Alguns há que não valem um vintém furado,
Outros alcançaram preços consideráveis.
Alguns falam de reis e de rainhas
E outros de gente muito pobre.

Alguns há cujas palavras são mais suaves
Do que o ruído das folhas ao meio-dia.
Foi um livro que João comeu em Patmos
Como um rato; mas eu prefiro as framboesas.
Isso lhe encheu as entranhas de amargura
E ele teve depois muitas visões.


Não basta ler que as areias das praias são doces; quero que meus pés nus as sintam...É-me inútil todo conhecimento que uma sensação não precedeu.
Nunca vi nada docemente belo neste mundo sem desejar desde logo que toda a minha ternura o tocasse. Amorosa beleza da terra, maravilhosa é a inflorescência de tua superfície. Ó paisagem em que meu desejo se abismou! Região aberta por onde passeia a minha busca; aléia de papiros que se fecha sobre águas; caniços debruçados no rio; aberturas das clareiras; aparecimento da planície no vão das ramagens, da ilimitada promessa. Passeei nos corredores de rochas ou de plantas. Vi desenvolver-se a primavera.
VOLUBILIDADE DOS FENÔMENOS
Desde esse dia, cada instante da minha vida adquiriu para mim o sabor de novidade de um dom absolutamente inefável. Assim vivi numa quase perpétua estupefação apaixonada. Alcançava muito depressa a embriaguez e comprazia-me em andar numa espécie de aturdimento.
Por certo quis beijar tudo o que encontrei de riso nos lábios; quis beber o que encontrei de sangue nas faces, de lágrimas nos olhos; e morder a polpa de todos os frutos que dos galhos se inclinaram para mim. Em cada albergue uma fome me saudava; diante de cada fonte uma sede me esperava – uma sede particular diante de cada uma; - e almejara outras palavras para marcar meus outros desejos
de marcha, onde se abria uma estrada;
de repouso, onde me convidava a sombra;
de nado, à margem das águas profundas;
de amor ou de sono ao pé de cada leito.
Botei intrepidamente a mão em todas as coisas e acreditei ter direitos sobre cada objeto de meus desejos. (Demais, o que almejamos, (...), não é tanto a posse, é o amor.) Que toda coisa se irise diante de mim! Que toda beleza se revista e se matize de meu amor!

Livro: Os Frutos da Terra
Autor: André Gide.


Aos 25 anos de idade, senti a necessidade de reler o livro já citado. O quê significa, para mim, reler Os Frutos da terra?
Significa recordar, lembrar, resgatar, recolher ou colher parte de mim e parte da postura que resolvi assumi diante da vida e dos que se aproximam de mim. É certo que aos 13 anos de idade (Primeira vez que li este livro) não o compreendi na sua profundidade, mas lembro, que passava horas fechada no quarto lendo e transcrevendo os trechos que me arrepiavam. Sentia uma alegria muito forte sempre que eu me desligava de tudo e me entregava àquela leitura: Lia em voz baixa e em voz alta, era como se naquele momento eu brincasse e desafiasse as letras, o autor e trouxesse para o meu lado a dona dele. Aquele "ritual" tinha o poder de me devolver imagens que me eram tão comuns: Minha mãe entregue aos livros. Era maravilhoso ler e puxar pela memória - Recordar a infância e sentir as paisagens que André Gide transcrevia de forma brilhante e sedutora nas páginas amareladas do livro Os Frutos da Terra.

Olhava aqueles livros e me sentia chamada por eles e só eu posso saber as horas que eu dedicava a eles, limpava-os, organizava-os, ao mesmo tempo, que eu os descobria. Não poderia haver satisfação maior naquela fase da minha vida...
lembro que a primeira coisa que me chamou a atenção no livro foi a capa, ou melhor dizendo, a sua anti-capa, que era preenchida por flores vermelhas de talos verdes muito finos, neste momento não recordo o nome delas, mas tive a satisfação e a sorte de vê-las pessoalmente, e quando as vi, automaticamente, lembrei daquela anti-capa que já não existe. Foi numa “cidade” pequena da Itália, especificamente, em Parona, era primavera, passeava na companhia de um amigo e da sua cadela Chicca, ainda lembro aquela tarde, porque me deu a chance de ver, exatamente, a imagem que sempre admirei na minha adolescência e juventude, não compartilhei com ninguém aquela visão, afinal, era unicamente meu o prazer de fazer real Os Frutos da Terra.
Como inicialmente escrevi, releio este livro, mais madura e com o conhecimento mais alargado, começo por compreender muitos dos meus comportamentos e a ambicionar ainda mais o conhecimento do mundo.

Quem me dera se todos os jovens dedicassem alguns minutos à leitura, e se todos tivessem a chance de ter como espelho uma figura como a que tive! Eu tenho a certeza que eu não poderia ter me tornado outra pessoa senão essa que sou, desde de muito nova descobri o prazer da leitura e é como se cada vez mais eu precisasse disso para viver, é como sentir um sopro de vida, mas não é só ler, é interpretar e fazer da leitura e do conhecimento a sua arma ou escudo.

Ler siginifica crescimento, significa despertar, significa ser curioso, significa questionar, significa viajar e tocar em solos não seus, significa sonhar de olhos atentos e viver perigosamente, porque ler é permitir a invasão do outro no eu. Até que ponto permaneceremos os mesmos após esta invasão? Resposta absolutamente subjetiva e íntima do leitor.
Ler é ser, ou melhor, ser implica ler. Pena que falta muito para termos uma sociedade mais voltada para o sabor da leitura.
Continuo e continuarei lendo sempre Os Frutos da Terra, pois, como todos os que me conhecem muito bem, sabem que esteja eu onde estiver, ele estará sempre comigo. E hoje sei que foi com André Gide que aprendi a sair de casa num dia de sol sem destino – Não há coisa melhor do que caminhar longos minutos e chegar a beira de um rio ou a beira mar na companhia de um bom livro. Não faz muitos dias, caminhei muitos minutos absorvendo o sol e fui parar num daqueles bancos que preenchem a Ribeira do Porto e lá me entreguei à leitura desse livro e à observação incessante do curso do Rio Douro. Me senti totalmente escrava daquelas letras e daquela linda paisagem. Fui levada a colher ótimos frutos naquela tarde ensolarada, foi uma experiência que me fez sentir a leitura muito mais saborosa...

Os Frutos da Terra é um livro que revigora e que chama à superfície a sensibilidade humana e que nos faz ainda mais atentos para a vida.
Me resta justificar o porque deste trecho dedicado à minha mãe. Penso que não é difícil entender os motivos que me levaram a tal atitude. Ela era, até então, a única dona do livro, mas, a partir dos meus 13 anos de idade adotei o meu primeiro filho (Os Frtutos da Terra) e não tem mais como eu abandoná-lo ou esquecê-lo. Foi a mais brilhante descoberta que fiz quando sozinha pensava e sentia saudades da minha mãe...
Obrigada mammy pela aprendizagem mais rica e mais valiosa que tenho.
Ia esquecendo, mas foi também esse livro, que me fez escolher o caminho na filosofia, pois, se foi a filosofia que me retirou por alguns anos a presença da minha mãe, foi ela, também, o elo de ligação entre mim e a filósofa que mais admiro: Neiza Teixeira.
Porto, 11 de julho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

"A Dream"

Te vi e uma luz se abriu naquele espaço pequeno e obscuro.
Nos olhamos, e os teus olhos claros sugaram os meus olhos escuros.
Sorrimos e o teu sorriso brincou com a minha timidez.
Longas horas nos vigiamos de longe...
A música era a certeza de que dividíamos o mesmo espaço,
Ela nos distraia e mexia os nossos corpos tombados.
Todas as outras pessoas estavam mergulhadas no álcool e naquela mágica noite. E nós dois, completamente entregues àquela distância pequena.
Me chamavas com o sorriso e eu não tive a ousadia de responder ao teu sorriso de menino pedinte.
Disfarçadamente me envolvia com o meu grupo de amigos e tu, ao contrário, demonstrava fugir dali.
Largos minutos nos olhávamos e inesperadamente estavam os nossos olhares parados na mesma direção.
Eu não sabia quem tu eras, sabia, unicamente, que não eras dali. Sentia curiosidade, mas me escondia entre os amigos felizes e imersos na noite que guardava mistérios.
Vieste na minha direção, chegaste, sorriste e falaste...Uma língua que não era a minha.
Sorri...
Timidamente olhei os teus olhos nos meus, senti vontade de te ter comigo, de te deixar no meu anonimato, solto no meu esconderijo.
Em poucos segundos eu estava falando a tua língua, mas a música estava ainda mais alta e as pessoas ainda mais contagiadas pela euforia deixada pelo DJ na pista. As nossas vozes se perdiam naquela atmosfera de verão.
Não compreendia o teu nome e tu, constantemente, repetia o meu.
As luzes do bar se centraram em nós, e eu passei a te enxergar de várias cores e ficavas ainda mais chamativo. Repentinamente, estávamos a sós no centro da pista, envolvidos pela curiosidade.
Sorrimos, nos olhamos e nos aproximamos...
Já não fazia sentido falar, por isso, os nossos corpos leves se moviam com destino ao mar.
Sensações: Areias frias, lua cheia e companheira, escuridão transparente e solidária que agregava o mistério de uma noite de verão.
Já não havia o bar, só os nossos corpos, no meio da praia e banhados pela claridade da lua.
Belezas diferentes com comportamentos iguais.
Nos conhecemos e nos despedimos ali...
Lá, naquela noite, que cheirava a amor momentâneo.

Danielle Soares
Porto, 20/06/08

sexta-feira, 20 de junho de 2008

"Eu sou assim"


Eu gosto da minha liberdade,
Adoro saber que eu não tenho um limite...
Sou fascinada pela idéia de que tudo é normal,
Habitual...Que nada está fora do mastigável e tolerável.
Nada me assusta, me choca, mesmo que eu, hipocritamente,
condene.

Sinto essa febre de sair, de sumir sem me trair
Quero ser levada por esse sentimento de poder
Sou assim, gosto de sumir, gosto de me sentir só!
Ningém pode me prender...

Me sinto liberta e gosto dessa sensação.
Talvez, eu tenha já sido um pássaro sem contato
Com fobia dos humanos. O único humano que aturo
Hoje sou eu...

A vida do artista me agrada
Admiro músicos que atingem o transcendente
Quando levados por um solo.
Solo de sozinho, de intocável e de poder.

Me sinto realizada na minha liberdade
No meu oculto
Apareço quando quero e sumo quando menos espero.
É isso que me atrai em mim

Por quê sou assim?

Danielle Soares
Porto, 20 de junho de 2008

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Viagem ao paraíso




Haviam muitas pessoas, na sua maioria, eram jovens que sobreviviam de um trabalho ingrato e árduo. Aquele sol latejava em nossas peles, a sua força era tanta que era necessário fechar sempre mais um pouco os olhos para que se pudesse enxergar para além do possível.
Suávamos de uma forma excessiva, sentíamos odores.
Aquele lugar era fedido e feio. Esburacado, molhado e preenchido por buracos cheios de água amarelada daquele barro pegajoso e nojento. Era um lugar que jamais pensávamos fazer parte, mesmo que fosse por uma hora. Pessoas trabalhavam e mendigavam o que comer, mas em suas faces era forte o desejo de evasão. Mas como sair daquele caos, sem antes, pisar naquela terra suja e esbarrar com aquela gente suada que transpirava um odor particular e expansivo?
Este era o desafio.
As pessoas gritavam, nos abordavam de forma a nos amedrontar e nós ali, jogados no inferno. Sem saber como reagir, nos reservamos num canto, já com as passagens em mãos com dentino ao paraíso. Daquele lugar começava o nosso silêncio, e a partir dali passámos a observar as pessoas que chegavam de terras distantes, mas em nenhum momento, dividimos as nossas impressões, mesmo que o outro fosse "nós". Nos fechamos e convivemos em corpo. A estranheza era a de que todos os que desembarcavam ali, estavam crentes de atingir o paraíso, e nós convictos de que estavámos prestes a sair do inferno.
Mas será que não éramos nós os enganados? Enganados ou não, o certo era que todas elas pareciam estar em sintonia com aquele espaço que abominávamos. As pessoas escorriam suor por toda a pele, vestiam roupas desajustadas, elas não andavam, mas, de forma grotesca arrastavam as sandálias, pareciam animais pesados e próximos da morte, elas gritavam umas com as outras, como se todos nós, estivéssemos a caminho da surdez e, como se não bastasse, muitos vinham com os seus pequenos rádios pendurados nos ombros, e despertavam o mundo com aquelas músicas choradas ou aceleradas, com vozes sufocantes e homicidas. Era engraçado, e o pior era que todos os demais, quando empolgados com uma ou outra música soltavam o berro, berravam e nos destruíam.
- Como é bruta a imagem que guardo daquele espaço!
Imersos ali, contávamos os segundos para partir, eis que surge um ruído, uma buzina estridente que anunciava a chegada do salvador e, para nós, o salvador era o navio que nos retiraria daquele lugar detestável. Ele se aproximava lentamente e trazia naquela lentidão a esperança de refúgio e entrega ao desconhecido. Era um navio de pequeno porte, preenchidos pelas cores brancas e vermelhas e os nossos sonhos e anseios somavam com a visão dos nossos olhos e não das nossas costas, queríamos olhar para frente e abandonar o passado. Os nossos sonhos revigoravam em nós e traspiravam em nossos poros molhados daquele calor insuportável...
Aproximava-se mais ainda a hora da partida, não falávamos um com o outro, não nos olhávamos, nos deixávamos ser embalados por aquela gente habituada ao ritual de uma viagem fluvial - Éramos formigas no meio de girafas agitadas e decompostas, o certo era nos deixar levar até atingir o interior do navio. Afinal, o que queríamos era sair dali, não importava o destino, mas era urgente nos despedir daquele lugar descontinuado.
Com dificuldade, conseguimos encontrar o nosso canto no navio e a partir dali esquecemos a figura de um e outro, esquecemos todas as centenas de pessoas que ali estavam, discriminamos até nós mesmos, pois o nosso propósito era o de aproveitar ao máximo as paisagens e as diferanças que aos poucos invadiam os nossos olhares.
Dois jovens curiosos e ansiosos, que buscavam o enriquecimento no espírito, cada um do seu jeito, absorvia a natureza e mergulhava nas paisagens selvagens e sedutoras. Os nossos olhos se contentavam e os nossos pés a cada avanço, criavam raízes no novum. Era tanta a diferença que nos guardamos na nossa individualidade e solidão. Comportamentos necessários para ultrapassarmos o limite do corpo e nos centrar na infinitude que os nossos olhos acalçavam.
Como reagir a tal afastamento?
Pergunta maldita. Resposta evasiva.
Não queríamos perguntas...O nosso desejo era viajar.
Viajámos imersos na natureza, fomos os mais autênticos observadores, fosse como fosse, observámos na complexidade a vida escondida de pessoas esquecidas, pessoas que viviam à beira daquele rio cheio não só de água, mas de riqueza e vida. Quanta contradição! Um rio tão vivo, rodeado de gente tão pobre e com a tristeza que sobressaltava em suas faces abatidas e sofridas.
Passei a sentir a vida daquelas pessoas em mim e a cada instante eu era invadida por um sentimento de retorno, mas a viagem era longa e quando via, aquela gente havia ficado para trás: Pobres e esquecidas, aproximavam-se da beira do rio quando o navio invadia a realidade delas. Viviam em casas humildes, feitas de barro, palha ou madeira, apesar de as enxergar tristes e esquecidas, elas gratuíta e satisfatoriamente, acenavam para os passageiros do navio. Sorriam um sorriso pleno de verdade. A imagem era tão extraordinária que muitos dos passageiros suspendiam os seus braços e fechavam e abriam as suas mãos ou guiavam os braços para a direita e esquerda, reproduzindo assim, o gesto do tchau. Era uma forma de recompensar aquela beleza perdida na imensidão daquela floresta. Fazíamos parte daquela novidade tão rotineira para elas.
Seguíamos em frente e repetidamente a realidade daquelas pessoas surgiam diantes de nós, até que se foi tornando habitual respondermos aos seus acenos. A partir de um certo momento, tudo foi se tornando tão normal. Tudo era tão igual: Casas de palhas, barro ou madeira escondidas numa imensidão verde que só terminava quando a terra abria espaço para o rio barrento e imenso, animais gordos e bonitos também preenchiam aquele mundo extraordinário. Crianças corriam e se jogavam nas águas daquele rio misterioso. Não pareciam sentir medo de nada, elas se divertiam gratuitamente, gritavam uns com os outros, corriam uns atrás dos outros, sorriam um sorriso aberto e envolvente - Eram felizes, despreocupados com o depois; viviam a infância na sua mais total pureza. Pareciam uns botos tucuxi, pois, nadavam e passavam longos minutos em baixo da água e sem esperarmos, vinham à superfície com o sorriso estampado em seus rostos. Lindas crianças, felizes seres que nos faziam sonhar com a criança que um dia fomos.
Tudo estava perfeito, tudo nos hipnotizava de tal maneira, que passámos a acreditar no paraíso. Que engraçado, nos sentíamos no paraíso, mas não fazíamos parte dele, afinal, em nenhum momento saímos do navio com destino à realidade daquela gente. Éramos somente espectadores do paraíso e, por isso, não pisamos, em nenhum momento, o chão daquelas terras.
Aproximava-se a noite e os sons dos bichos e da escuridão surgiam cada vez mais fortes, sentíamos medos e a curiosidade nos dominava. Como forma de viver tudo ao máximo, separamos duas cadeiras e dali tentávamos enxergar a noite escura. Tamanha era a a escuridão que se tornava impossível ver vida para além do barco, nos restava, então, continuar ouvindo os ruídos dos bichos e o barulho deixado pelo navio.
Cada vez mais as horas passavam e todos os outros viajantes procuravam um lugar para deitar os seus corpos cansados e queimados do sol que fizera, e nós, éramos levados pela curiosidade, o que nos permitia conhecer os segredos daquele navio, andávamos entre as pessoas adormecidas, subíamos as escadas até chegar ao topo e de lá, aguardávamos ansiosos a luz da lanterna dispensada pelo navio, mesmo que durasse menos de dez segundos, era o suficiente para nos fazer mergulhar no mistério da noite em pleno Rio Amazonas. Infelizmente, a noite continuava a guardar os seus mistérios e não estávamos completamente prontos para admirar a beleza que se guardava naquela escuridão solitária.
O frio chegava, a noite nos expulsava e se aproximava o cansaço, mas não era justo fecharmos os olhos e os sentidos, por isso, nos entregamos à leitura: Devoramos livros, criamos histórias em nossoas mentes, procurávamos olhar para o nada daquela noite escura e quando esgotados, fechamos os nossos olhos como forma de deixar a noite com a sua total liberdade.
Nos deixamos embalar pelos nossos sonhos, dormimos colados um ao outro, sem dizer uma palavra, sonhamos juntos.
Ressurgia um novo dia, o sol ressurgia ainda mais quente, vivo e ardente. Cumprimentamos toda a paisagem a nossa volta, e mais uma vez, estávamos a esquecer de nós. Estranho comportamento, vivemos a nossa mais total individualidade, como se o habitual deixasse de nos ser querido, só o que nos importava era viver o novo de forma completa e sem companhia - As impressões eram de cada um e não dos dois. Foi este o nosso pacto e desde dali, que cada um procurou e foi fiel aos seus caminhos.
Finalizamos a nossa aventura; cumprimos o nosso plano; fizemos o nosso trato e a partir daí nos perdemos em vidas distantes das nossas. E agora, como é gratificante contemplar o paraíso sem fazer, totalmente, parte dele!
Os nossos sonhos permanecem em continentes diferentes e sonhamos ao lado de pessoas que já não somos nós, mas nada disso importa, afinal, continuamos com vida e com os olhares para o horizonte, para o infinito desejado.
A lembrança daqueles homens e mulheres ainda me assaltam, bem como, os sorrisos doces daquelas crianças - E são estas recordações que me estimulam a seguir viagem: Sozinha ou não continuo com o forte desejo de descobrir e mergulhar naqueles sorrisos inocentes e repletos de sonhos.
Sem darmos adeus um ao outro, seguimos. Atingimos o fim ou será o começo?
Olho a mesa que agora estou e me deparo com a minha nova passagem, estou de partida, mais uma vez...Sairei do inferno com destino ao paraíso?
Paciência, logo se saberá.

Porto, 10 de junho de 2008
Da varanda do apartamento, admirando o maravilhoso pôr-do-sol de primavera. A noite chegou ainda mais escura e eis que entra pela janela uma borboleta. Na minha terra se costuma dizer que é anúncio de sorte/dinheiro/boas notícias. Será? (risos)

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

SOLIDÃO INQUIETA


A sala está preenchida por uma voz, o som da guitarra e do violão hipnotizam os pensamentos, e a voz me chama a seguir aqueles instrumentos repletos de sentido.
Estou sonolenta, páro de escrever e fecho os olhos por segundos, volto a abrí-los, me viro sobre o sofá e passo a enxergar para além da sala.
O tempo está claro, mas é uma claridade que sufoca porque o sol está, ao mesmo tempo, que parece ausente...É estranho descrever esse tempo: É um calor, melhor, é um vestígio de calor. Sim, é uma indecisão, é algo que me foge. Volto a me concentrar na sala, que é de uma claridade absorvente.
Ouço a música, olho essas letras e a música acaba, ouço aplausos e a guitarra volta, a voz ressurge e eu olho os objetos, todos imóveis. Começo por jogar vida neles mas não reagem - Estão mortos no seu fim decorativo.
Me movo, me canso, me ignoro. Penso.
Os pensamentos não param e fico sonolenta. A música volta ainda mais forte e desperto.
Ouço um barulho vindo de fora.
Um helicóptero sobrevoa a cidade. É verde. A cidade está intacta e não repara naquele pássaro de ferro que lhe vigia.
Novamente os plausos, um ruído incomodativo sufoca. Metrô, que calculadamente me enche os ouvidos com esse som irrinitente.
Procuro me centrar na música, na melodia e me detenho no som da bateria, na pulsação que marca o tempo. O tempo está lento.
O metrô chega incomodando.
Esqueço a música e fico sonolenta. Meus braços doem, as letras começam a sentir a feiura e por isso, tornam-se disformes, quase como que o tempo, elas atingem o nível da incompreensão.
Apoio o meu braço direito sobre o sofá, para que assim, as letras regressem ao estado do entendimento aos olhos dos que sentem o desejo de folhear este caderno repleto de inspirações.
A sala ecurece, o pouco sol que havia fica ainda mais encoberto e a música acaba...Surgem os aplausos e assobios e o braço continua a reclamar da dor.
Acho que quer parar de escrever...Logo agora que surge na sala uma das mais belas canções: Running on Faith de Eric Clapton.
Com licença...Me absorvo na música.
A sala passa a ser música e eu continuo sonolenta, deitada sobre o sofá - A voz me domina.
Me entrego aos instrumentos e à música em harmonia.
O tempo continua escuro e indeciso e eu durmo ao som da melodia abstrata e transformada em mim. Não, o sono não foi o suficientemente forte. Inesperadamente, um cheiro vindo da rua me assalta, penso: É cheiro de chuva! Me viro novamente no sofá, de forma que eu possa olhar para a varanda e passo a enxergar nos vidros pingos finos. Sim, confere, é cheiro de chuva! E como adoro esse cheiro de terra molhada...Me entrego a ele e volto à minha infância, que com muita frequência, sentia com prazer este cheiro tão forte e significativo para mim.
A música ainda não acabou, mas agora, tudo está perfeito: A voz, a sala, a indecisão do tempo, os instrumentos e esse cheiro de uma particularidade singular. Engraçado, o sol ressurge com todo o seu poder iluminatório. Já não estou só...Tudo está comigo, agora.

Danielle
Porto, 10 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Neblina





Hoje renasceu das cinzas, ou melhor, da lixeira do nosso tão ilustre Bill Gates, aquele que muito me punha para pensar e refletir sobre diversas experiências empreendidas, aquele que traz consigo um lugar que não está situado num tempo e espaço.
Oh, como me sinto feliz!!! Ganhei outra vez a vida de pessoas que pertencem, por agora, unicamente a mim...Sim, falo de ti Neblina! Imagino o teu sofrimento, o teu forçado anonimato, dentre outros textos, imagens, rascunhos e pobres deletados escritos pessoais. E se não fosse aquela lixeira? Se tivéssemos o desprazer de nunca nos reencontrarmos?
Neblina, Neblina...Abandonado Neblina, fizeste jus ao teu nome, pois por longos dias fostes o mais autêntico mistério, te escondeste na invisibilidade de uma tela, como sofreste de solidão, de desprezo e de saudades da tua verdadeira ilusão - a de ser real para aquela que tanto pensou em ti com lamento e tristeza de não conseguir ser fiel às palavras que outrora estavam submersas no oculto.
Conheceste a morte Neblina e por que não me ajudar a desenvolver em ti as histórias com as quais cruzaste? Como senti saudades do meu primogênito, sim, tu és para mim o meu primeiro filho e não há dor maior no mundo do que a de perder o que nasce de nós...
Vamos, vem comigo descobrir Neblina...

Era um dia cinzento e escuro assim como todos os outros dias...

Como senti a tua falta e agora não sei mais como continuar a descrever a felicidade que sinto em poder te conceber e comtemplar novamente.
Bem-Vindo Neblina...Apodere-se de mim de uma forma completa e dominante. Sempre fui tua apesar da tua forte personalidade e continuarei sendo tua até atingires a tua glória, então, mãos as obras, porque muito tenho para te fazer conhecer a tua continuação.
- Não, não podes ir assim, aliás, não podemos ir assim, sem antes agradecer a uma pessoa que fez com que tudo acontecesse novamente: Matteo Circosta.
Tens razão, se não fosse ele, talvez jamais poderíamos nos sentir denovo, provavelmente, nem mais serias tu Neblina.
Matteo, esse texto foi também uma forma de eu agradecer a você a preocupação e a dedicação em fazer ressurgir da sua lixeira o meu projeto, de um dia, quem sabe, me tornar autora de um livro misterioso e cheio de nevoeiros...
Acho que já nem preciso escrever que foi exatamente na lixeira do Matteo que Neblina deu um tempo, mas foi só um tempo, afinal, ele voltou pra mim e quiçá, daqui um tempo, para todos...


Danielle Soares,
Porto, 04 de junho de 2008
23:18hs

domingo, 25 de maio de 2008

Os nossos tempos


Dói a dor dos estranhos já passados.
Chegando aqui, nesse espaço completo por um cinza proveniente da memória que traz os tristes olhares de um povo suprimido pelos tempos não mais normais.
Chegam João, Francisco, Armando e Amadeo. Homens que deixam por onde passam a pesada lembrança sofrida da pobreza miserável que vem desde os seus ancestrais.
Eles não choram, não riem satisfatoriamente, eles parecem simplesmente, viver e, viver, para eles, é sobreviver, vencendo os empecilhos e a crueldade que invadem os seus caminhos.
Vivem dos seus trabalhos, servem a todos como se fossem parte de suas famílias - não fazem distinção de pessoas, pois aprenderam, de uma forma honesta e digna, o significado do termo, pessoas de bom coração.
Quatro figuras retiradas de um lugar puro, sem maldade e sem olhares perdidos nos atalhos da mediocridade.
São sábios nos seus espaços, tudo o que fazem, fazem com entrega e quanto mais fazem mais é visível o prazer que transborda em suas faces - Homens simples, humildes e de uma riqueza invejável: A sabedoria como lidam com a vida supera todas as expectativas; Eles encaram os acontecimentos como consequências, não desprezam a alegria nem a dor, sentem tudo na sua mais total essência, são humanos e só por isso, resistem, insistem e não desistem.
Para quê desistir?
Eles respondem com o sorriso nos lábios:
- Só desiste aquele que perdeu o sentido da vida, deixando, por isso, de senti-la como abertura para infinitas possibilidades, e este não deixa de ser, para nós, covardes!
Apesar da humildade que os assombra e os guarda, eles jamais deixaram de oferecer aos que deles se aproximaram, uma mão e, foi neste doar de mãos e coração que eles me deixaram invadir e conhecer aquele modo de vida tão singular e longiquo.
Como foi enriquecedor o tempo que ali vivi! Foi gratificante poder dividir com eles experiências tão distantes.
Ouvindo-os pude constatar que uma grande parte dos valores assimilados por nós perdem, justamente, o sentido de valor, quando confrantados com a sabedoria daqueles senhores que ambicionam a cura da maldade humana.
A conquista dá-se quando nós permitimos e nos permitem a entrega; Quando nos dispomos a assimilar as diferenças dos outros com o único objetivo de acrescentar algo de positivo em nós - Não adianta ditar os valores, as crenças, as regras, as falhas, as vitórias, as guerras, os dissabores, as glórias se não há de nossa parte o espírito da abertura e da entrega. De que adiantam as palavras se não houver os que que se permitem à leitura?
Foi mais ou menos isso que pude absorver daquela estada ao lado de João, Francisco, Armando e Amadeo - Espíritos sábios e solitários que nunca, talvez, terão a possibilidade de fazer de suas histórias um livro aberto para os que acreditam na leveza de um espírito saudável.
Humildade
Coragem
Confiança
Lealdade
Esperança
Honestidade
Amizade
Palavras, serão simples palavras?
Para eles não são simples palavras, mas, de uma forma extraordinária fazem com que a prática delas os tornem humanos imortais, pelo menos, para aqueles que acreditam na cura da nossa sociedade doente de valores e submersa entre a verdade infundada e a crença subjetiva de pessoas da paz. É extremamente difícil incutir o bem, mas é, indiscutivelmente fácil implementar uma tendência corporal, física, estética. Pensando bem, é muito fácil ditar uma moda ou um comportamento em pessoas que não se permitem ao próprio conhecimento ou que, simplesmente, jamais se deixarão levar por não ícones. A verdade é que dificilmente, os humildes chamam a atenção da nossa sociedade doente e fraca de paradigmas dignos de exaltação.
Zeca Baleiro soube expressar bem os passos dos tempos que vivemos:


Você só pensa em grana

Você só pensa em grana
Meu amor!
Você só quer saber
Quanto custou a minha roupa
Custou a minha roupa...

Você só quer saber
Quando que eu vou
Trocar meu carro novo
Por um novo carro novo
Um novo carro novoMeu amor!...

Você rasga os poemas
Que eu te dou
Mas nunca vi você
Rasgar dinheiro
Você vai me jurar
Eterno amor
Se eu comprar um dia
O mundo inteiro...

Quando eu nasci
Um anjo só baixou
Falou que eu seria
Um executivo
E desde então eu vivo
Com meu banjo
Executando os rocks
Do meu livro
Pisando em falso
Com meus panos quentes
Enquanto você rir
No seu conforto
Enquanto você
Me fala entre dentes
Poeta bom, meu bem!
Poeta morto!...


Esta canção está presente no CD Líricas de Zeca baleiro. Uma das mais belas letras e músicas que ouvi e ouço.
Danielle Soares
Porto, iniciado no dia 24 e finalizado no dia 25 de maio de 2008

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Ressurgida



De onde? De quem? Para quem?
Finalmente posso conviver de uma forma mais prazerosa e proveitosa com o meu espaço virtual e, isso me faz sentir o anseio de atualizar...
Atualizar tudo...
Que coisa é essa de "espaço virtual"?
Por quê a "ressurgida"?
Escrevendo esse termo - a "ressurgida" me vem na mente alguém que alterou o rumo da sua vida ou que, simplesmente, deu o ar de sua graça após um longo período de ausência.
Na verdade, reapareço hoje, depois de umas semanas distante do tão viciante e empolgante mundo virtual, mas ao contrário do que os milhares de internautas poderão pensar, eu não me senti a parte do mundo, pois, mergulhei de uma forma mais ampla e despreocupada à leitura e à uma vida um pouco mais real, se é que me entendem.
Aproveitei para viver mais comigo e com o que só os bons escritores podem nos oferecer: crescimento intelectual, pessoal, viajar por mundos jamais vistos, sentir a vida de personagens com os quais nos identificamos...enfim, o período nulo do contato virtual me rendeu frutos positivos...Descobri o quanto é bom deixar de saber de pessoas e lugares...nada melhor do que dá um tempo...
Ressurjo maravilhosamente bem pra ti:
My space ... Cresci um pouquinho mais pra ti...
A distância nos faz amadurecer idéias que sentem o desejo da evasão.
Por isso, voarei...

Danielle

sábado, 26 de abril de 2008

Tempo...foi só ou continua sendo unicamente o tempo

Desejos Vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras...essas...pisa-as toda a gente...

(Florbela Espanca)

A chuva cai incessantemente, o céu está totalmente carregado...
Me sinto submersa entre o que é e o que não é, entre a fantasia e o convencional.
O tempo me move, essa negritude celestial me assombra e me coloca ainda mais íntima de mim e o tempo me molda transfigurando o meu humor.
A chuva é contínua e continua ainda mais forte, como se ela tivesse nesse momento, a árdua missão de lavar a alma da humanidade.
Ela não cessa, os seus pingos grossos deixam em nós o desejo de fuga, eles parecem chorados, tristes por caírem do céu e atingirem o seu fim – rastejar pelas ruas, becos e avenidas até que venha o sol e os mate definitivamente.
O tempo não pára, um dia, não muito distante, cantou Cazuza.
Inevitavelmente, o tempo vai seguindo o seu ritmo, o seu curso, assim como a chuva que cai continuamente. Somos escravos do tempo e buscamos nele uma alternativa segura para nos sentirmos donos, ao menos, do nosso tempo - Mas, ele (tempo) não pára, mesmo que hoje a chuva nos obrigue a estar um tempinho fechados em nós, ele (tempo) se vai e não se preocupa se ganhamos ou perdemos o tempo de pedir para que o tempo dê um tempo.
Não estou "comprando" briga com o tempo, nem com o tempo que faz hoje – um tempo cinza, carregado e recheado de invisibilidades…Porém, assim como Florbela Espanca desejou um dia:

Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!


A certeza única que teria era a de não ter certezas, no entanto, é preciso ser humana, pois, é o único meio que me permite pensar e racionalizar a condição de ser pedra, e por isso, o desejo de ser essa pedra rude e forte se anula quando a chuva cessa e os raios do sol reacendem. Florbela Espanca, sendo também humana se deu conta da condição de ser pedra e como é mísera tal condição, pois como ela afirma:
E as pedras...essas...pisa-as toda a gente...

Assim como a chuva, que por mais que nos assuste, não deixarão de ser pingos vindos de cima mas que correm o chão sujo deixado por nós – humanos mortais!
E o tempo?
Ah, o tempo – com este, ninguém é capaz…Porém, deixemos tudo em suas mãos, pois como se diz por aí, o tempo cura tudo, ou, com o tempo tudo se cura.
Danielle Soares
Porto, 26 de abril de 2008
Ofereço este texto ou esta reflexão ao meu irmão mais velho que no dia 16 deste mês completou 30 anos – Deivy é e continuará sendo para sempre o meu ideal.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Estado de Espírito




Dentro de mim sinto um vazio imenso que toma conta de todos os meus atos.
Não sei o que chamar a isso.
Será saudade, tristeza, descrença, desespero, transição, ou será, a simples constatação de que tudo está partindo para bem distante?
Sinto uma raiva estranha, estranha porque é de mim que sinto esta raiva. Não quero e nem posso sentir raiva do tempo, dos lugares por mim admirados, das pessoas que satisfatoriamente falei e souberam de mim e, tampouco, posso sentir raiva dos cuidados que ofereci ao Outro, logo, essa raiva pertence unicamente a mim e se destina infalivelmente a mim.
Se é possível definir essa raiva, afirmo: É uma sensação que vem acompanhada de dó, de pena e de lamento - Eu lamento a minha fragilidade, a minha condição e a minha evasão.
De minha janela suplico ao Universo um conforto, grito às forças que transcendem o homem e não obtenho garantia de nada.
Quero viver o rompimento - o rompimento na sua autenticidade, um rompimento que não deixa vestígios de existência e nem o sabor repetitivo do passado.
É muito para mim...Não consigo romper Nada, absolutamente, NADA!!!
Ah, eu quero paz e um refúgio para que eu viva a minha individualidade escassa e fugaz...
Não, não sou capaz!
Surge e renasce o Amor...
E eu amo!
Amo porque é bom amar;
Amo porque só ama as pessoas de bom coração;
Amo porque sou humana;
Amo porque aprendi a dizer "Amor" e
Amo pelo simples fato de sentir o Amor.

Mas o que fazer quando se ama sozinha?
Não se vive o amor, mas, se sente o amor,
Guardam-se as palavras que se pretende dizer ao amado,
Fecha-se num mundo interior coberto de dor,
Guardam-se os gestos,
Fecha-se a boca,
Guarda-se um beijo, um desejo e uma flor.

O não amor dói mais do que qualquer outra dor porque ele é a confirmação de um rompimento forçado vindo daquele que pretende camuflar o Amor.
O não amor fere o invisível dos sonhos e fere sem dó o ser sedento por descobrir o mundo em função do Amor.

Danielle Soares
Porto, 10 de abril de 2008.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Me sinto livre para expressar...


Não sei se neste momento o que me domina é o efeito do café com leite que hoje tomei na companhia da minha irmã, para quem não me conhece totalmente, devo dizer que o café (cafeína) tem um poder avassalador sobre mim.

As raras vezes que tomo a famosa meia de leite (como se diz aqui em Portugal) me sinto com os pensamentos distantes, o meu cérebro parece ativo e insatisfeito com o que me está diante dos olhos e, por isso, voa e voa sem pedir permissão. Quando assim me sinto, só me vêm à mente os meus tempos de faculdade (saudades...infinitas...) que nos tempos de provas (exames) ou trabalhos puxados eu me via "obrigada" a ir até um café e pedir uma meia de leite acompanhada de um croissant, pois sabia, que desta forma, iria conseguir ficar até altas horas da madrugada concentrada nos estudos.

Foi a partir daí que digo: Não preciso me drogar com maconha, cocaína, haxixe, e etc e tal pois basta uma pequena dose de cafeína para me deixar assim, com os pensamentos totalmente livres e a mente estranhamente ativa para receber e fornecer informações.

Estranho não? Sim, quando vejo e sei da cultura européia onde a maioria das pessoas são movidas por aqueles pequenos e fortes cafés, penso: Por quê para eles é simples e normal ir até um café, bar, discoteca, restaurante e pedir - "Um café!"?

É cultura, é hábito e por isso é comum e isso me causa uma curiosidade tremenda em saber se elas se sentem mais vivas ou se é a força do hábito...Se tanta curiosidade sinto é evidente que pergunto e, surpreendentemente, elas me respondem: "A mim não há qualquer efeito, mas não vivo sem café!"

Então, será que quem fala mais alto é o hábito/cultura ou a constatação de uma disposição acrescentada?

No meu caso, como puderam saber, acontece um efeito inteiramente produtivo porque escrevo, me sinto inspirada e com energia para viver sem me cansar, no entanto, abomino a idéia de ser movida pela cafeína e daí, eu raramente ir até um café e pedir uma meia de leite, posso até garantir que nunca pedi um expresso nesses meus 7 anos de Portugal.

A prova disso é que hoje vim ao meu blog e pela primeira vez escrevi um texto completamente livre de "prés", ou seja, livre de pré-planificações ou pré-observações a respeito do tema "Meia de leite". Por isso iniciei...me sinto livre para expressar, criar, falar e viajar...



Porto, 08 de abril de 2008

sábado, 29 de março de 2008

La vida és sueño...


Pedro Calderon de la Barca foi poeta e dramaturgo. Podemos situá-lo na linha daqueles que temos como "grandes", uma vez que, assim como todos os grandes poetas, escritores, filósofos, atores, músicos, foi vítima de uma história de vida não totalmente feliz, pois, aos dez anos de idade perdeu a mãe e, aos quinze, o pai. Tal acontecimento o levou a ser criado no Colégio Imperial dos Jesuítas em Madrid, onde estudou Humanidades e foi durante este período que se familiarizou com os clássicos.
Uma vez chegada a hora de ingressar na vida acadêmica, deixa este colégio em Madrid para fazer parte da Universidade de Alcalá de Henares em Salamanca.
Foi em 1620 que P. Calderon de la Barca rompeu com a sua carreira eclesiástica, e regressando a Madrid deixa-se envolver pelas suas ambições no âmbito da criação, e, foi durante este período que começou a participar de certames poéticos. Já em 1625, com apenas 25 anos de idade, ele inicia a sua vida como dramaturgo o que rapidamente é tido como o "dramaturgo oficial da corte".
P. Calderon de la Barca foi autor de várias obras que marcaram decisivamente a história do teatro em língua castelhana. Entre as suas obras encontramos: auto sacramentais, zarzuelas -palavra jamais vista ou lida por mim e que por isso me sirvo do dicionário Houaiss da língua portuguesa para que desta forma eu possa compreendê-la - (Tipo de ópera cômica espanhola, com canções e peças instrumentais entremeadas por diálogos, geralmente baseados em melodias folclóricas e libreto satírico) entremeses, comédias religiosas, de costumes, de amor e ciúmes e, ainda, obras no campo da filosofia.
Dentre as suas inúmeras obras as que se destacam são: El dragoncillo, El laurel de Apolo, El mágico prodigioso, La dama duende, El alcalde de Zalamea, La vida es sueño e El gran teatro del mundo.
Mas a pergunta que me coloco agora é a seguinte: Por quê escrever sobre tal poeta e dramaturgo?
Para ser franca não o conhecia até uns dois ou três dias atrás, foi numa conversa mais intelectual e proveitosa que um amigo me fez conhecer o poema que dividirei com os que doam alguns minutos lendo o meu espaço criativo. É claro que aqui não deixarei um texto científico ou algo do gênero porque a minha idéia inicial foi a de agradecer o conhecimento de um poema tão chamativo e envolvente. A verdade é que as conversas mais intelectuais, ou melhor, voltadas para o mundo dos livros ou da arte sempre nos deixam bons frutos e naquele dia Andrés me deixou o seguinte poema:
Retirado de: "La Vida és sueño"
Segismundo,

És verdad; pues reprimamos
esta fiera condición,
esta furia, esta ambición
por si alguna vez soñamos.
y sí haremos, pues estamos
en mundo tan singular,
que el vivir sólo es soñar;
y la experiencia me enseña
que el hombre que vive sueña
lo que es hasta despertar.

Sueña el rey que es rey, y vive
con este engaño mandando,
disponiendo y gobernando;
y este aplauso que recibe
prestado, en el viento escribe,
y en cenizas le convierte
la muerte (¡desdicha fuerte!);
¡que hay quien intente reinar,
viendo que ha de despertar
en el sueño de la muerte!

Sueña el rico en su riqueza
que más cuidados le ofrece;
sueña el pobre que padece
su miseria y su pobreza;
sueña el que a medrar empieza,
sueña el que afana y pretende,
sueña el que agravia y ofende;
y en el mundo, en conclusión,
todos sueñan lo que son,
aunque ninguno lo entiende.

Yo sueño que estoy aquí
destas prisiones cargado,
y soñé que en otro estado
más lisonjero me vi.
¿qué es la vida? un frenesí.
¿qué es la vida? una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.

Pedro Calderon de la Barca (Madrid,01/01/1660 a 25/05/1681)


Seguimos sonhando, desgarrados da fúria do quotidiano, seguimos sonhando, pois, somente os sonhos nos deixam seguir vivendo. A partir deles nos desvinculamos do delírio irrinitente daquilo que se apresenta a nós de uma forma tão bruta.
Nos deixem seguir sonhando, nos deixem conhecer aquilo que somos com os nossos sonhos e quando despertados nos deixem seguir acreditando!
Pois a vida é vestígio daquilo que sonhei. E como será que vive aquele que deixou de acreditar nos sonhos?
"Que el vivir sólo es soñar; y la experiencia me enseña que el hombre que vive sueña lo que es hasta despertar". Sim, vamos sonhar e o sonho sempre haverá, basta para isso estarmos e nos sentirmos vivos e livres para sonhar...
É isso vida! Tudo se pode acabar, alterar, sacrificar e domesticar, mas os sonhos, ah, os sonhos estes jamais hão de findar, pois só não sonha aquele que já não é.
"que toda la vida es sueño,y los sueños, sueños son." - Seguiremos como cavaleiros medievais, atentos a todos os detalhes desta vida fugaz, pois, os sonhos seguirão sempre sendo sonhos...E a vida, seguirá sempre, sendo a mistura audaciosa do real com o irreal!
Fantasias, máscaras, disfarces...tudo se faz para continuar o sonho em forma de vida!
Um brinde aos criadores e que não deixem de sonhar JAMAIS!!!!!!!!!!!


Danielle Soares

Porto, 30 de março de 2008

domingo, 16 de março de 2008

A ti

Foto - Heidelberg - Alemanha 01/01/05 By Danielle


Deixem-me ir...
Descobrir o que invade os meus olhos e tomam, imediatamente, conta dos meus sentidos e que preenchem os meus sentimentos vazios.
Deixem-me partir...
Sim, me deixem ir...
Sentir a nostalgia que só sente aquele que parte; aquela nostalgia que nasce a cada segundo quando se aproxima a hora do adeus.
Deixem-me ir...
Desvendar os segredos guardados pelos meus entes já enterrados, segredos soterrados, que se escondem nas profundezas apavorantes da natureza não-tocada.
Sim, me deixem ir...
Deixem que os meus comandos não sejam mais do que os meus pés descalços e desgarrados de todos os laços feitos por mim.
Deixem-me ir...
Enxergar a beleza solitária de tudo o que é exterior a mim... Deixem-me sentir o gosto da liberdade, que enobrece o espírito inquieto.
Deixem-me partir...
Sim, me deixem ir...
Como uma Bem-Aventurada, seguirei os ritmos que toquem o meu ser;
Levarei comigo a mochila pesada de um passado cheio de boas histórias: histórias minhas, aquelas que vivi inteiramente comigo e aquelas que compartilhei com os que cruzaram a minha vida.
Pessoas, lugares, situações, abraços, beijos ou um simples aperto de mãos...
Palavras, olhares, risos, soluços e a simplicidade da inspiração...
Levarei comigo a saudade!
Deixem-me ir...Mas permitam que eu leve comigo a Memória: Memória de mim - a Memória que me confirma viva.
Deixem-me partir...
Conhecer ruas, montes e avenidas.
Mas uma coisa prometo: quando cansada, voltarei para mim, sentada à beira do rio ou de frente para a imensidão envolvente do mar, iniciarei uma nova viagem, uma viagem unicamente dentro de mim e, quando saudosa, tudo voltará. Mas espero que já não seja a mesma, que neste momento escreve estas letras carregadas de desejos de partir.
Deixem-me ir...
Sim, me deixem voar, correr, andar até ao limite, que se inicia a cada passo dado.
Deixem-me...
Vou...Viajar...
Conhecer, descobrir, mergulhar, captar...
Deixem-me...
Me entregar ao estado constante da ignorância; ao vento que invade o meu corpo e vértebras, até que eu reconheça o invisível.
Deixem-me
Viajar...
Me colocar num mundo inabitado e me espantar com o óbvio.
Deixem-me...
Sentir...
A alegria dos Eleitos
A capacidade dos Magos
A descoberta dos navegantes...
Sim, me deixem Ser
Me deixem viver
Deixem-me sobreviver
Deixem-me não morrer...

Sim, deixem-me eterna!!!


Danielle Soares,

Porto, 14 de março de 2008.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Poesias

Entre os quadros expostos
Entre os artistas em palco
Entre os palhaços do circo
E entre toda a multidão
Espero sempre um levantar de mãos
Procuro o riso descabido
Vindo de um espaço desconhecido
Espero ouvir um grito
Quero além de tudo visto
Presenciar o desespero ou o acanhamento
De quem está ali,
Disfarçado diante da vida.
Linda a imagem do desespero
Rio.............Rio.........e.......Rio!
Passa...Passou e não mais rio.
Choro e não mais choro
Grito o grito dos desesperados
Luto a luta dos desgraçados
Jogo o jogo dos covardes.
Olho a vida
Toda ela representada
E não mais choro e nem mais rio
Não mais brinco nem mais grito.
Somente jogo o jogo da vida
Sem fantasia enxergo a vida
Toda vivida...
Sem despedidas, sem chegadas
Somente ela
Intacta e inacabada
Sem artistas e sem espetáculos
Sem plateias e sem aplausos
E nela me guardo
Inteiramente sozinha
Sem saber o meu Princípio
Meio e Fim.

Danielle
Espinho, 02 de fevereiro de 2003.

Poesias



O instante em que toco o meu rosto
O instante em que me afasto do meu corpo
São instantes em que desconheço o meu esboço
São instantes em que me vejo no poço.

Enxergo a escuridão na sua totalidade
Chego a sentir o poço na sua profundidade
E pergunto se é aqui nesse poço
Que terei a chance de me desgarrar da febre da humanidade.

Ainda continuam o poço vazio e o oculto
É tudo o que procuro...

Me vejo então no nada
De tudo que um dia
Foi tudo o que vivi!

Danielle,
Espinho,02 de fevereiro de 2003.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A busca que não cessa...


Parte I

Por tantos lugares estiveste e por tantos lugares buscaste o que só agora encontraste.
Foram tantas as viagens, as caçadas e em muitas delas procuraste o teu próprio ser. E eu, no mais distante que pude estar, avistei o teu desespero no momento em que deixaste ela escapar, assim como que, um barco que parte em direção ao nada que é tudo, ela partiu, deixando nos teus olhos lágrimas de desespero e gestos de uma criança que roga pelos braços da mãe.
Naquele exato momento criei pernas e segui os teus rastros e ao aproximar-me do teu corpo senti que já estava morto.
E agora sou eu quem chora o choro dos desconsolados e sou eu quem sussurra pelos teus abraços jamais sentidos por mim...
Ela,
Sozinha na imensidão do mar deixa o vento tocar o seu rosto, a brisa apodera-se do seu corpo, enquanto que eu, em terra grito por tua alma.
Desespero, angústia e morte...
Tudo ao mesmo tempo apodera-se de mim da forma mais cruel e arrebatadora. Antes, não sendo capaz de descrever as circunstâncias malévolas e tristes, dizia que era feliz, pois podia mesmo de longe olhar para ti e constatar o brilho e o sorriso que vinham da tua face.
Mas hoje quando penso na morte chego a acreditar que ela é para ti a âncora, enquanto que para mim, ela é a anulação da vida que eu poderia viver.
Ao meu redor a multiplicidade subsiste e não se preocupa se eu parei naquele tempo em que te fechaste diante dela. Felizes seríamos, ou talvez não, se o Devir deixasse de ser Devir quando nós deixamos de querer acordar para um novo dia com o reflexo escaldante de um Dioniso.

Ao olhar para mim vejo marcas de um passado triste e vejo nos meus olhos os lamentos mundanos; enxergo em mim um vazio e quero além de tudo visto o retrato que um dia segui os teus passos sem medo, sem receio e sem esperanças. Segui simplesmente porque senti em mim que um dia acabarias sem ninguém que te pudesse fazer ressurgir.
Diante de tudo sou eu quem hoje fala, chora, sorri e vive por ti, simplesmente, porque a minha ânsia de vida se foi no momento em que o ar sentiu o teu último suspiro.
Não quero que tu morras em mim, não quero que o tempo te leve dos meus pensamentos, tampouco, quero a idéia de que tu já não pertences a isso a que chamamos Mundo.

O que fazer para te ter aqui?
As dúvidas me invadem e são elas que me trazem o sentimento de perda; é a partir delas que consigo perceber que possuo um ser calado, imóvel, frio, ou melhor, um ser que deixou de ser.
Eu sinto a saudade que consola, que te traz até mim e que não me maltrata...Sinto-a porque ela transcende toda a realidade; é a partir dela que me elevo para ti e é por isso que tu és a saudade que gosto de ter, e por mais que ela também seja a consciência da perda eu não deixo de acreditar que ela é a vivacidade da vida já anulada.
Fechada no mundo deixo cair lágrimas sobre a minha face já envelhecida e guardo ainda no peito uma vida que poderia ser vivida se tu estivesses aqui. Como seria boa a vida que eu planejei para mim e para ti!
Em desespero grito:
- Por quê chegaste tão cedo no fim?
- Por quê eu não mais jovem e sem forças devo aguardar a boa vontade da morte?

Me resta chorar e não mais cantar, me resta ainda esta sala vazia, as lembranças, as fotografias, a praia deserta e a areia que acolheu o teu corpo. Eu já não encanto o mundo com a minha música, as notas saem tristes e de tristeza estou coberta.
Por isso não mais canto, não mais toco, só o que quero é te sentir aqui.
Não esqueças que é em mim a tua morada...
Então pode chegar e por favor demora...

Parte II
A perda pode ser tida como a perda de si mesmo ou do outro, não interessa se é mais ou menos, o que importa é que em ambos os casos são perdas que machucam e que matam continuamente.
O caso de particularizar a perda só nos facilita a apreensão da mesma, por isso, escrever sobre ela não significa que conseguimos prendê-la em nós, pois, se assim fosse, ela já não seria perda.
Relatar os dias passados sem a presença do outro torna-se confuso porque tendemos a fundir aquilo que queremos com aquilo que já não se pode ter, e com isso, somos surpeendidos e principalmente iludidos pelo desejo íntrisico de poder diante daquilo que nos é desconhecido.
Como é notável, queremos sempre aquilo que nos escapa, por isso, que quando presenciei a tua morte quis de imediato poder diante de tudo o que me rodeava e gritei para o mundo a minha fragilidade. Em lágrimas e com o corpo trêmulo chamava por ti, e tu já distante, com os olhos fechados e o rosto molhado das tuas e das minhas lágrimas que se confundiam já não compreenderia o que é o choro, o amor e o mundo.
Ali tu deixaste a tua história, ali tu fechaste toda e qualquer possibilidade de futuro. A partir dali foste não sei para onde, foste não sei se sozinho, sei simplesmente, que aqui já não estas.


Danielle Soares
Iniciado em 30/03/03 - modificado e concluído em 18/12/04 - Coimbra

Espero que a leitura do mesmo não levante questões sobre quem é verdadeiramente a Dani..rsrs
Na verdade a minha primeira idéia foi a de um dia (quem sabe) poder escrever um livro de contos, mas hoje, um pouco mais madura, acabei abandonando tal idéia e resolvi retirar alguns trechos mais significativos para dividir com os que se permitem à leitura.
Não que este não venha fazer parte de alguns projetos que ambiciono no mundo da escrita, mas hoje, decidi mostrar um pouco do meu lado criador, que em muitos dos casos é, também, assustador.




segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Presente de amiga

Dia 28/01/2008 estava "comemorando" meu niver no MSN com amigos, na verdade, só tc com ela, Telinha...uma amiga e num dado momento da conversa ela resolveu me presentear da seguinte forma:

O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraiso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não doi. (Cazuza)

Cantando agente inventa. Inventa um romance, uma saudade, uma mentira... Cantando a gente faz história. Foi gritando que eu aprendi a cantar:sem nenhum pudor, sem pecado. Canto pra espantar os demônios, pra juntar os amigos. Pra sentir o mundo, pra seduzir a vida. (Cazuza)

Obrigada amiga
Dani

Estrela





Estrela

Estrela errante
Estrela distante
Estrela infinita
Estrela minha
Estrela tua
Estrela nossa
Estrela fugidia

Estrela…

Estrela do rico
Estrela do pobre
Estrela do miserável
Estrela do sobrevivente
Estrela do inocente

Estrela…

Estrela amarela
Estrela branca
Estrela transparente
Estrela prateada
Estrela pendente

Estrela…

Estrela do branco
Estrela do negro
Estrela do índio
Estrela do amarelo
Estrela do mestiço
Estrela do mulato
Estrela do espaço

Estrela…

Estrela asiática
Estrela oriental
Estrela ocidental
Estrela humana

Estrela…

Estrela grande
Estrela média
Estrela pequena
Estrela pontuda

Estrela…

Estrela do norte
Estrela do sul
Estrela do leste
Estrela do oeste
Estrela do nordeste
Estrela do globo

Estrela…

Estrela solidária
Estrela solitária
Estrela ousada
Estrela antipática
Estrela amada
Estrela camuflada

Estrela…

Estrela do pecado
Estrela do peregrino
Estrela do crente
Estrela do decadente
Estrela do ateu
Estrela da fé em Deus

Estrela…

Estrela que se cala
Estrela que murmura
Estrela que surge branca
Estrela que surge amarela
Ou será ela transparente?
És estrela de todas as cores
Estrela para todos os gostos
Estrela de todos os povos
Estrela de todos os sabores

Estrela…

Estrela que passa
Estrela que chora
Estrela que grita
Estrela que é só alegria

Estrela…

Estrela que brilha
Estrela que hipnotiza
Estrela que devora
Estrela que consola
Estrela que arrepia

Estrela…

Responde estrela
Serás amarela, branca ou sem cor?

Óh estrela…
A noite acabou!

Danielle Soares
28/01/2008

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A inspiração que me devora

Justificativa: Sou alguém que não vive sem ouvir boas músicas e este gosto devo a Neiza Teixeira, pensando bem, não é só o gosto pelas boas músicas que devo a ela, mas também, a escolha em seguir filosofia. Não vou alargar esta questão porque surgiria um outro texto (risos).
Pensar na minha infância é recordar os fins-de-semana que juntamente com minha mãe,Helen e Naiara limpávamos os livros ao som de Bob Dylan, Joe Cocker, Janis Joplin, Led Zeppelin,Lou Reed, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Edson Cordeiro, Djavan, Gil e muitos outros. Pra mim aquele era um momento extraordinário,minha mãe sempre com o jeito extrovertido e doido (no bom sentido) quando empolgada/envolvida no ambiente deixado pelas lindas canções, cantava gritando e dançava (quando lembro rio sozinha) - Jamais esqueci e esquecerei aqueles fins-de-semana em que com prazer tirava as poeiras dos livros e depois arrumava-os de acordo com o tamanho, ali sentia como se me aproximasse ainda mais deles. Ninguém fazia idéia e nem eu mesma de que o gosto por boas músicas e livros surgia em cada fim-de-semana que nos entregávamos àquele trabalho. É engraçado, mas ainda hoje tenho a necessidade de tirar as poeiras dos livros e arrumá-los. Esta aprendizagem é tão importante pra mim que mesmo quando estou na casa que não é a minha e se vejo os livros empoeirados ou desarrumados sinto o desejo de organizá-los...Não pensem que sou uma compulsiva porque não sou.
Os meus já são o suficiente para me ocupar e os da minha mãe é melhor nem pensar no espaço que ocupam...risos
Por ter cultivado em mim o gosto por boas músicas e pela arte em geral, que um dia me veio o seguinte texto:
A música, os instrumentos, a dança, o reprensentar, a escrita, o artista ou, simplesmente, o homem - Um conjunto que se preenche e que se guarda num tempo e espaço; um grupo ou um só indivíduo que só pode reconhecer o seu trabalho quando ouve gritos, assobios, vaias e suspiros de outros homens que se submetem a uma viagem fantástica, confortante, breve ou demorada, triste ou feliz, leve ou pesada.
Apodero-me aqui da figura do músico, uma vez que, ele satisfaz o seu espírito no momento em que uma multidão deixa transparecer a beleza e a empolgação que os seus acordes, a sua voz, os seus movimentos remetem.
Será a arte uma ilusão, uma representação, um alívio, uma saída, um grito, um irreal ou será ela a realidade disfarçada?
Eis uma questão que além de implicar uma outra arte (a da argumentação) requer nada mais que o sentir e o conhecer.
Sentir - o modo como cada admirador da arte encara a mesma, o modo como o espírito humano é tocado na medida em que está envolvido por uma linda canção, uma linda voz ou um só sopro;
Conhecer - conhecer ou ter proximidade com o objeto, com a técnica, com o espaço e com o público.
O sentir e o conhecimento do real.
O homem que possuindo o espírito, sente, e esse sentir lhe possibilita mergulhar em mundos criados no próprio real. No entanto, antes que essa viagem aconteça é necessário o ACERTO, o SUCESSO e o PRODUZIR PERFEITO, pois, nada pode ser só do espírito porque o homem é, como sabemos, trabalho,ou seja, produtor de algo.
A arte, ou demilimitando esse amplo terreno, a música é uma efervescência espiritual, é a elevação do corpo que nem necessita sair do lugar para alcançar o absoluto.
O meu ato de escrever tem por trás a intenção de alcançar o valor que cada manifestação artística causa naquele que se prontifica a direcionar o seu olhar, os seus ouvidos e os seus passos à contemplação de um mundo que antes de estar pronto e acabado foi previamente pensado e trabalhado em função da superação do próprio artista. Tal mundo não pode ter falhas pois nenhum criador admite a sua obra como algo que provém do erro ou do desvio.
A música causa prazer: a voz do cantor, as suas letras, o instrumento que nos preenche e hipnotiza para não falar daqueles que são verdadeiros atores em palco, enfim, este conjunto eleva os homens e, como uma espécie de chamamento, somos levados para uma dimensão em que o tempo e o espaço desaparecem, em que as raças anulam-se, os hábitos desabituam-se e até a própria identidade do sujeito se confunde. São essas elevações do espírito que a arte em geral nos proporciona e que fazem com que nos tornemos Um diante da Multiplicidade, ou seja, o eu é um só eu, ou simplesmente, é um ser que pelo trabalho do outro concorda em desaparecer para que assim possa reconhecer a grandeza do seu semelhante - Criador e Criatura num mesmo mundo, com o mesmo corpo e compartilhando a obra que será sempre visível e julgada: O conhecimento próprio de um bom admirador e a capacidade própria de um Criador - Jamais este terá a chama da vida sem que exista o contemplador - Aqui está a soberania e a dependência mescladas a todo instante. Não devemos esquecer: Mesmo com a força e o desejo de criar, o artista dependerá sempre de olhos não seus que possam elevar o seu próprio Ego. Nenhum dos dois anula-se, pois o Criador prolonga-se no outro ou, simplesmente, naquele que se submete a uma viagem artística.
Mundos tão próximos e tão distantes - O mundo da arte, o mundo que cria, que engana mas que não deixa, por isso, de nos mostrar o real de uma forma tão cruel e sedutora... A arte é, portanto, um mundo que não tem esperança de nada, a não ser, o de estar sempre presente naquele que a produz e naquele que é espectador.
Por isso, pergunto:
- Que nada é esse?
E assim findo a minha inspiração que pode também ser encarada como um momento de me sentir criadora...
Danielle,
Coimbra, 06/10/05
21:08hs.