quinta-feira, 19 de maio de 2016

Conselho

Passei a vida esperando
o que mãe Yara falou.
Com os olhos fechados 
ditava-me a vida.

E chamando-me: "Filha..."
entendi que a esperança.

“É a rede que balança
No extinto quintal da infância.”

Assim ela dizia: 

“Olhai o sorriso da criança
Que dentro ficou.”

Danielle Soares
Porto, 23 de Outubro de 2014.


terça-feira, 1 de março de 2016

Vermelho

Das unhas
das bocas
Do coração 
do ventre
Da maçã
do amor
da moça
Do fogo
da terra
Da paz 
do sangue
da guerra
Do choro 
das Américas.

Danielle Soares.
Manaus, 18-2-2016

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

       


 











         I
O suspiro
amanhecido.

No Norte
ficou.

Cheiro
de flor.

Que nada sabia
sobre o amor.

       II

Enchia-me de alegria.
Fazendo-me crer na fantasia

Até que um dia,
veio a despedida

Cravando-me o
reverso do amor.

Suspiro
Que no Norte ficou.

Danielle Soares

Manaus, 22 de fevereiro de 2016


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

CAVALO POETA
Ao poeta amazonense Thiago de Mello


Tenho um cavalo poeta,
cantando margaridas
viaja nas redondilhas.
Gavião desesperado
sacode as asas de medo
com tantos versos feitos.
Hortência tão curiosa
Bem lá do outro lado rio
respira expectante
o poeta que nunca viu.
Cavalo Celestino
- Que poeta namorador!
Exímio galopante
desliza a grama do amor…
Danielle Soares,
Porto 26-07-2014
Manhã e manha.
Amanhece.
Cheias de manha estão as árvores e os pássaros. Elas bailam, eles cantam e, harmoniosamente, empreendem as suas passagens.
Manhã e manha.
Nesta manhã clara acordo cheia de manha, sento-me na mesa da cozinha, tomo o meu café e espero a energia apoderar-se do meu corpo. Sonolenta e cheia de manha arrumo os cabelos, lavo o rosto, escovo os dentes e tomo banho prolongado de água fria: passo o sabonete pelo meu corpo, percorro o pescoço, sinto vontade de cantar para amenizar a leve dor da água fria, e nisto ela segue em direção aos pés. Aí fico, buscando o motor vital para contemplar esta manhã cheia de manha.
Pego a toalha, cubro-me, escolho uma roupa leve e cheia de cores. No escritório abro as janelas, da cadeira da minha secretaria observo o dia, quase ninguém passa pela rua, apenas os pássaros cantam. Observo um senhor que da sua janela, pensativo, com o seu cigarro já quase chegando ao fim, pensa:
– Como é belo o ar primaveril, estamos em Abril…
(Ele já não está, nem sei se era o que ele pensava, apenas fumava o seu cigarro e as suas preocupações não são as minhas).
Concentro-me. Livros espalhados, folhas rasuradas, chaves de casa, pinça, tesoura para cortar as unhas, espelho, e muitas ideias. Abro as gavetas e decido arrumá-las, encontro poemas acabados, outros apenas começados, gosto do que leio, guardo-os como ouro. Ainda retornarei a eles.
Ligo o computador e o mundo passa a ser quadrado. Nesta manhã cheia de manha não quero o virtual, quero o real, não quero um clique mas um aperto de mão, não quero fotografias, quero paisagens como as que via no tempo de menina, não quero falsas felicidades quero a cidade no seu absoluto caos.
Mesmo consciente de tudo, rendo-me a ele, mesmo que eu tenha posto a melhor roupa, e sinta-me viva, quem espera por mim são as vidas que vou criando nesta tela, e o que elas querem é saber como é estar numa manhã cheia de manha, mesmo que agora a chuva tome conta do lugar onde vivo.
- Deixa de manha e bota para fora o que lhe vai nas entranhas, diz-me a manhã.
Danielle Soares
Canidelo, 09 de Abril de 2015.

Esperança






Mais do que na maldade,
acredite na pétala
caindo, vagarosamente,
na terra.


Danielle Soares
Manaus, 28 de Janeiro de 2016

Imaginação



Cheguei em terras de ninguém. Plantei árvores, vi um rio para banhar-me e beber de sua água.
Lá não encontrei rumores, clamores, difamadores, oradores, nem dores, apenas odores de uma vida que deixava.
E quando a noite chegava, convalescente, vomitava o podre que me restava.
E a lua me banhava, doida para eu admirá-la, desatenta, pensava, que era só mais uma noite que passava.




Manaus, 11 de fevereiro de 2016
                            Danielle Soares.

domingo, 11 de março de 2012

LUZ


No silêncio do quarto
uma chama quase gasta.


Estou eu e ela.
Escuridão amarelada
da vela pálida.

Observo-a.
Aproximam-se pensamentos
e a vela está a um dedo
de desaparecer.


Venero-a de modo
ainda possessivo,
pois o fim que a espera
é o do prazer de um
dever cumprido.



Vela ardente,
companheira nas noites frias e
conselheira poética de uma imagem
que não escrevi.


Adormecida,
agradeço à beleza
do seu reflexo em mim...


Danielle Soares

Porto, 31 de Janeiro de 2012

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Camélias


                                                                                                                               















                                                        Para Neiza Teixeira

Flores

Inverno molhado,
flores.
Rosas e fortes.
Vivas folhas verdejantes no cinza.
Flores dela.
Lembro do tempo que por elas passava e acenava um gesto de ciao.
Retrato da felicidade – Rosto e mãos no tempo.
Surpreendia-lhe a beleza da natureza.
Questionava o Belo.

Hoje, as mesmas flores saltam aos meus olhos e admirando-as
respiro o cheiro dela, sinto-a diante de mim, debruço-me em seu colo
e recebo os seus carinhos.

A chuva que banha as camélias,
secam-me em lágrimas de saudade.

Observo.

O vento as lança de um lado para o outro
e imersa nesta imagem me vou embalando,
ouvindo cantigas de ninar do tempo de criança.
É a sua voz que se aproxima.
É o tempo falando em mim.
Imagem que transcende.
São as camélias que no inverno bailam,
Respondendo ao gesto de ciao dela.
A esperança dorme em mim.

Danielle Soares
Porto, iniciado em 07/12/ 2010 e finalizado em 04/12/2011.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Quando eu te encontrar



Prender-te-ei em meus abraços
fatigados de esperar.

Quantos serão os desabafos
e os soluços após um trago?

Segredos contados.
Vinho derramado.

Vem, aproxima-te
do canto berrante
do poeta galopante,
vagabundo dissonante.

Sou, meu amor.

Mulher da tez morena,
dos lábios vermelhos,
que esconde no peito
desassossegos.

Envolto ao teu ardor
proclamo os versos
que doam prazer à dor.

Vem ao relento e
espalhando os lençóis,
deixa cantar os rouxinóis.  

Momentos a sós. 

Mulher da tez morena,
diz qual é a graça
em fazer do poeta
este mendigo e sonhador?

Ó meu amor.

Danielle Soares
Porto, 25 de Outubro de 2011