segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Manhã e manha.
Amanhece.
Cheias de manha estão as árvores e os pássaros. Elas bailam, eles cantam e, harmoniosamente, empreendem as suas passagens.
Manhã e manha.
Nesta manhã clara acordo cheia de manha, sento-me na mesa da cozinha, tomo o meu café e espero a energia apoderar-se do meu corpo. Sonolenta e cheia de manha arrumo os cabelos, lavo o rosto, escovo os dentes e tomo banho prolongado de água fria: passo o sabonete pelo meu corpo, percorro o pescoço, sinto vontade de cantar para amenizar a leve dor da água fria, e nisto ela segue em direção aos pés. Aí fico, buscando o motor vital para contemplar esta manhã cheia de manha.
Pego a toalha, cubro-me, escolho uma roupa leve e cheia de cores. No escritório abro as janelas, da cadeira da minha secretaria observo o dia, quase ninguém passa pela rua, apenas os pássaros cantam. Observo um senhor que da sua janela, pensativo, com o seu cigarro já quase chegando ao fim, pensa:
– Como é belo o ar primaveril, estamos em Abril…
(Ele já não está, nem sei se era o que ele pensava, apenas fumava o seu cigarro e as suas preocupações não são as minhas).
Concentro-me. Livros espalhados, folhas rasuradas, chaves de casa, pinça, tesoura para cortar as unhas, espelho, e muitas ideias. Abro as gavetas e decido arrumá-las, encontro poemas acabados, outros apenas começados, gosto do que leio, guardo-os como ouro. Ainda retornarei a eles.
Ligo o computador e o mundo passa a ser quadrado. Nesta manhã cheia de manha não quero o virtual, quero o real, não quero um clique mas um aperto de mão, não quero fotografias, quero paisagens como as que via no tempo de menina, não quero falsas felicidades quero a cidade no seu absoluto caos.
Mesmo consciente de tudo, rendo-me a ele, mesmo que eu tenha posto a melhor roupa, e sinta-me viva, quem espera por mim são as vidas que vou criando nesta tela, e o que elas querem é saber como é estar numa manhã cheia de manha, mesmo que agora a chuva tome conta do lugar onde vivo.
- Deixa de manha e bota para fora o que lhe vai nas entranhas, diz-me a manhã.
Danielle Soares
Canidelo, 09 de Abril de 2015.

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