sábado, 26 de abril de 2008

Tempo...foi só ou continua sendo unicamente o tempo

Desejos Vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras...essas...pisa-as toda a gente...

(Florbela Espanca)

A chuva cai incessantemente, o céu está totalmente carregado...
Me sinto submersa entre o que é e o que não é, entre a fantasia e o convencional.
O tempo me move, essa negritude celestial me assombra e me coloca ainda mais íntima de mim e o tempo me molda transfigurando o meu humor.
A chuva é contínua e continua ainda mais forte, como se ela tivesse nesse momento, a árdua missão de lavar a alma da humanidade.
Ela não cessa, os seus pingos grossos deixam em nós o desejo de fuga, eles parecem chorados, tristes por caírem do céu e atingirem o seu fim – rastejar pelas ruas, becos e avenidas até que venha o sol e os mate definitivamente.
O tempo não pára, um dia, não muito distante, cantou Cazuza.
Inevitavelmente, o tempo vai seguindo o seu ritmo, o seu curso, assim como a chuva que cai continuamente. Somos escravos do tempo e buscamos nele uma alternativa segura para nos sentirmos donos, ao menos, do nosso tempo - Mas, ele (tempo) não pára, mesmo que hoje a chuva nos obrigue a estar um tempinho fechados em nós, ele (tempo) se vai e não se preocupa se ganhamos ou perdemos o tempo de pedir para que o tempo dê um tempo.
Não estou "comprando" briga com o tempo, nem com o tempo que faz hoje – um tempo cinza, carregado e recheado de invisibilidades…Porém, assim como Florbela Espanca desejou um dia:

Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!


A certeza única que teria era a de não ter certezas, no entanto, é preciso ser humana, pois, é o único meio que me permite pensar e racionalizar a condição de ser pedra, e por isso, o desejo de ser essa pedra rude e forte se anula quando a chuva cessa e os raios do sol reacendem. Florbela Espanca, sendo também humana se deu conta da condição de ser pedra e como é mísera tal condição, pois como ela afirma:
E as pedras...essas...pisa-as toda a gente...

Assim como a chuva, que por mais que nos assuste, não deixarão de ser pingos vindos de cima mas que correm o chão sujo deixado por nós – humanos mortais!
E o tempo?
Ah, o tempo – com este, ninguém é capaz…Porém, deixemos tudo em suas mãos, pois como se diz por aí, o tempo cura tudo, ou, com o tempo tudo se cura.
Danielle Soares
Porto, 26 de abril de 2008
Ofereço este texto ou esta reflexão ao meu irmão mais velho que no dia 16 deste mês completou 30 anos – Deivy é e continuará sendo para sempre o meu ideal.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Estado de Espírito




Dentro de mim sinto um vazio imenso que toma conta de todos os meus atos.
Não sei o que chamar a isso.
Será saudade, tristeza, descrença, desespero, transição, ou será, a simples constatação de que tudo está partindo para bem distante?
Sinto uma raiva estranha, estranha porque é de mim que sinto esta raiva. Não quero e nem posso sentir raiva do tempo, dos lugares por mim admirados, das pessoas que satisfatoriamente falei e souberam de mim e, tampouco, posso sentir raiva dos cuidados que ofereci ao Outro, logo, essa raiva pertence unicamente a mim e se destina infalivelmente a mim.
Se é possível definir essa raiva, afirmo: É uma sensação que vem acompanhada de dó, de pena e de lamento - Eu lamento a minha fragilidade, a minha condição e a minha evasão.
De minha janela suplico ao Universo um conforto, grito às forças que transcendem o homem e não obtenho garantia de nada.
Quero viver o rompimento - o rompimento na sua autenticidade, um rompimento que não deixa vestígios de existência e nem o sabor repetitivo do passado.
É muito para mim...Não consigo romper Nada, absolutamente, NADA!!!
Ah, eu quero paz e um refúgio para que eu viva a minha individualidade escassa e fugaz...
Não, não sou capaz!
Surge e renasce o Amor...
E eu amo!
Amo porque é bom amar;
Amo porque só ama as pessoas de bom coração;
Amo porque sou humana;
Amo porque aprendi a dizer "Amor" e
Amo pelo simples fato de sentir o Amor.

Mas o que fazer quando se ama sozinha?
Não se vive o amor, mas, se sente o amor,
Guardam-se as palavras que se pretende dizer ao amado,
Fecha-se num mundo interior coberto de dor,
Guardam-se os gestos,
Fecha-se a boca,
Guarda-se um beijo, um desejo e uma flor.

O não amor dói mais do que qualquer outra dor porque ele é a confirmação de um rompimento forçado vindo daquele que pretende camuflar o Amor.
O não amor fere o invisível dos sonhos e fere sem dó o ser sedento por descobrir o mundo em função do Amor.

Danielle Soares
Porto, 10 de abril de 2008.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Me sinto livre para expressar...


Não sei se neste momento o que me domina é o efeito do café com leite que hoje tomei na companhia da minha irmã, para quem não me conhece totalmente, devo dizer que o café (cafeína) tem um poder avassalador sobre mim.

As raras vezes que tomo a famosa meia de leite (como se diz aqui em Portugal) me sinto com os pensamentos distantes, o meu cérebro parece ativo e insatisfeito com o que me está diante dos olhos e, por isso, voa e voa sem pedir permissão. Quando assim me sinto, só me vêm à mente os meus tempos de faculdade (saudades...infinitas...) que nos tempos de provas (exames) ou trabalhos puxados eu me via "obrigada" a ir até um café e pedir uma meia de leite acompanhada de um croissant, pois sabia, que desta forma, iria conseguir ficar até altas horas da madrugada concentrada nos estudos.

Foi a partir daí que digo: Não preciso me drogar com maconha, cocaína, haxixe, e etc e tal pois basta uma pequena dose de cafeína para me deixar assim, com os pensamentos totalmente livres e a mente estranhamente ativa para receber e fornecer informações.

Estranho não? Sim, quando vejo e sei da cultura européia onde a maioria das pessoas são movidas por aqueles pequenos e fortes cafés, penso: Por quê para eles é simples e normal ir até um café, bar, discoteca, restaurante e pedir - "Um café!"?

É cultura, é hábito e por isso é comum e isso me causa uma curiosidade tremenda em saber se elas se sentem mais vivas ou se é a força do hábito...Se tanta curiosidade sinto é evidente que pergunto e, surpreendentemente, elas me respondem: "A mim não há qualquer efeito, mas não vivo sem café!"

Então, será que quem fala mais alto é o hábito/cultura ou a constatação de uma disposição acrescentada?

No meu caso, como puderam saber, acontece um efeito inteiramente produtivo porque escrevo, me sinto inspirada e com energia para viver sem me cansar, no entanto, abomino a idéia de ser movida pela cafeína e daí, eu raramente ir até um café e pedir uma meia de leite, posso até garantir que nunca pedi um expresso nesses meus 7 anos de Portugal.

A prova disso é que hoje vim ao meu blog e pela primeira vez escrevi um texto completamente livre de "prés", ou seja, livre de pré-planificações ou pré-observações a respeito do tema "Meia de leite". Por isso iniciei...me sinto livre para expressar, criar, falar e viajar...



Porto, 08 de abril de 2008